BRASIL: PÁTRIA EDUCADORA?

Jargões funcionam no mundo dos sonhos e em ditaduras. O lema escolhido por
Dilma Rousseff – Brasil: Pátria Educadora – é ruim e traz uma promessa
vaga. Não que a educação não tenha que ser eixo central de qualquer país que
pretenda continuar a existir. O problema é a forma com a qual o governo
apresenta esse desafio e a dúvida quanto ao seu conteúdo, que até agora
mostrou-se “sem pé e sem cabeça”. As crianças, assim como a educação são as
bases do futuro de um País. O cenário nos cantões do Brasil quanto as
crianças é desolador, fazendo de anjos autênticos escravos. Sob o sol
impiedoso do verão baiano, o menino senta-se na curva da estrada poeirenta
na entrada de Maragogipinho. O menino de 14 anos, a pele negra brilhando
suor, descansa junto aos seus pés o feixe de lenha que vinha carregando.
“Cato lenha e vendo para as olarias, por R$ 2,50 o feixe. Às vezes, vendo
cinco pacotes de uma vez, e vou buscar mais cinco. Fico assim, aventurando.
Por mês, a lenha rende uns R$ 50″. Naquela cidadezinha toda a cena se
repete, com crianças de até 6 anos trabalhando. Em Santa Rita do Ouro Preto,
em Minas Gerais, pólo de lavra e artesanato de pedra-sabão, as crianças não
estão na escola pois podem tirar R$ 25 por mês trabalhando numa oficina de
artesanato ou cortando e lixando a pedra – sabão. Quando o sol se põe detrás
dos morros que margeiam a estrada em Santo Antonio de Jesus e Muniz
Ferreira, próximo a Salvador, crianças e adolescentes saem de suas casas e
entram no aterro sanitário abastecido com o lixo de seis cidades da região.
Ali, juntam-se aos adultos, disputando com os urubus e o trator que compacta
o fétido monte de detritos, à cata de copos de plástico, latas para
reciclar, comida para os porcos criados em seus quintais e algo mais:
“Quando acha um bife bom, a gente come”, diz uma delas. Já em Salto da Onça
no Rio Grande do Norte todas crianças ajudam a fazer fogos de artifício. Sob
encomenda de atravessadores e fabricantes da região, terceirizam etapas da
produção que requerem mão-de-obra intensiva, como envolver palitos de traque
na espoleta ou encher trouxinhas de papel com as massinhas que estalam no
chão. Santo Antonio de Jesus, na Bahia, também produz fogos de artifício
com mão de obra infantil e ficou famosa em dezembro de 1998, quando uma
fábrica explodiu, matando 64 pessoas, entre elas uma criança e 40
adolescentes. Realmente precisamos de educação, a começar no governo.