CADÊ NOSSO PROJETO DE PAÍS

Nos últimos 15 anos, países da periferia do capitalismo souberam interpretar
corretamente a nova lógica global e cresceram em ritmo forte, aproveitando o
ciclo de expansão econômica mundial e as baixas taxas de juros. O Brasil,
empolgado com a idéia de que bastava abrir, privatizar e estabilizar, ficou
para trás. Foi assim no governo FHC, idem com o Presidente Lula. No governo
Dilma, temos ações sociais e uma retórica externa vivaz, nenhum projeto
nacional consistente que inclua uma visão estratégica de inserção global
saiu do forno. China, a Índia, a Coréia do Sul cresceram nos últimos 15 anos
muito mais que os cerca de 50% acumulados pelo Brasil; a China 278%; a Índia
129%; a Coréia 123%. O desempenho original desses países vem principalmente
do amplo projeto de educação em quantidade e qualidade, focada em
desenvolvimento tecnológico. A China cresce porque um governo forte e
lúcido combina planejamento com pragmatismo, objetivando tornar o país o
centro da manufatura mundial, (não falemos agora dos horríveis custos
sociais). Utilizando o poder de mercado e as reservas externas do país, ela
constrói uma aliança “tensa” e inteligente com os Estados Unidos. Sua
entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC) convive com um sistema de
preços relativos internos controlados e uma imensa produção de bens. Em
apenas 30 anos, a China teve o número de universitários aumentado de 1,4%
para 20% da população total. Já a Coréia do Sul, em menos de duas gerações
se tornou um país rico, participando ativamente dos setores globais mais
dinâmicos, com grandes corporações e marcas próprias de elevado conteúdo
tecnológico. Fazendo parcerias eficazes com o Japão e os Estados Unidos,
sucessivos governos conseguiram mobilizar o capital nacional ao mesmo tempo
em que liberalizavam a economia. Na Índia, o bom desempenho decorre de um
processo de abertura cuidadoso, focado em setores onde o país possui uma
elevada vantagem competitiva como, por exemplo, as ciências exatas, o país
se transforma no grande centro mundial de serviço, de plataformas mundiais
de atendimento até a liderança em desenvolvimento de softwares e de novos
medicamentos. Enquanto isso no Brasil não se sabe como transformar seu
excelente desempenho em crescimento. Máquina pública inchada com déficits
públicos absurdos, falta de infraestrutura, cada vez menos investimentos
externos, faz com que percamos o “bonde da história”. Na verdade, nos
satisfazemos com metas medíocre de 3% ao ano de crescimento, quando
necessitamos de um mínimo de 5% para reequilibrar nossas contas e combater a
pobreza. Nenhuma discussão mais profunda apareceu até agora sobre um projeto
para o país que podemos ser.