Caiu na rede é peixe…

No seus primeiros dias, Facebook era apenas uma brincadeira entre alguns estudantes no campus de Harvard, a maioria com mais de 18 anos, que marcavam encontros entre si, cheios de disposição pra promover ‘festas de arromba’ com muito ‘hot stuff’ e cerveja gelada…

Hoje, presente em praticamente todas as áreas de atividade humana que se utilizam, e se beneficiam, da comunicação, a rede social conta com mais de 900 milhões de seguidores, e está disponível pra todas as idades, com exceção, teoricamente, pra menores de 13 anos.

Mesmo devaneando que aos 13 anos eu já não só tivesse barba, mas também já tivesse adquirido experiência suficiente pra ‘fazê-la’ sem me cortar com a navalha, o que me preocupa mais no assunto de que discorro é a possibilidade da criança tornar-se membro simplesmente mentindo sobre sua idade.

Algumas dessas crianças – choquem-se, pais! – já o fizeram: 5,6 milhões só nos Estados Unidos, segundo estimativas.

Isto porque a restrição (ressalva legal, ou ‘disclaimer’ em inglês), embora aparentemente salvaguarde legalmente a empresa, pra criança tem o mesmo efeito do ‘não pise na grama’ do meu tempo!

Provavelmente se poderia tecnicamente impedir que crianças participassem de redes sociais, mas não seria justo simplesmente não deixá-las socializar-se entre si ‘online’ – o que, diga-se de passagem, fazem melhor e muito mais facilmente que nós adultos.

O que as empresas de tais redes sociais precisam é deixar de considerar criança como se adulto fosse. Tanto que muitas dessas crianças têm perfis completos na rede, incluindo fotos e informação pessoal, a que qualquer um tem acesso. Muitas acessam com seus próprios celulares; outras revelam até onde estão ao predador de plantão!

Tais empresas devem se esforçar, muito além de sua natureza comercial – e que tal esforço não seja só retórico, ainda que por medo de processos! – em aprimorar os dispositivos, automáticos, de segurança quanto à privacidade dos pré-adolescentes.

É imperativo que se crie um ambiente muito mais seguro que o atual, onde fotos, confidências e planos, só possam ser vistos pelos seus amigos ‘autorizados’, e não pelos amigos do amigo, ou por todo o mundo da Internet.

E que haja, compulsoriamente, uma forma de orientar e envolver os pais em todas as etapas, desde a abertura e o uso/acesso à conta, e a utilização de ‘apps’, e a alteração de dados, até o conteúdo mais adequado ao usuário ‘imberbe’.

Aliás, esse envolvimento compulsório dos adultos conscientes tem sido a forma mais eficaz de proteger os seus filhotes desde os tempos da ‘amarelinha’, que, antes da luz elétrica, só se brincava de dia…

Até na natureza selvagem, onde a predação dos mais vulneráveis é comum – por ser selvagem, e por ser lógica! –  a preservação da integridade da cria é defendida com unhas e dentes, como forma natural de prevenir a extinção (ou por amor, quem sabe?)!

Então, nestes dias tão modernos, em que o ‘chapeuzinho vermelho’ é dado ao Facebook antes mesmo de ser dado à luz só pra mostrar a ‘barriguinha’ –  e  o ‘lobo mau’, graças ao PhotoShop, tem orelhas, olhos e boca de príncipe encantado! – o que esperar de uma civilização que não se empenhar, com ‘unhas e dentes’, pra salvaguardar suas crianças e garantir o seu próprio futuro como tal?

Fonte: The Economist