O que é mais fantástico?

Sempre acreditei num design inteligente para este mundo. Não me atrai a ideia de que de uma explosão tenha resultado esta ordem que deflui de leis perfeitas, que só aos poucos a mente humana vai desvendando. Para simplificar, uso a imagem de um puzzle, aquele quebra-cabeças com 5 mil peças. Custo a crer que, arremessado para cima, ao cair forme – espontaneamente – o desenho perfeito. Cada peça a se encaixar na outra, sem a intervenção de qualquer inteligência. Humana ou sobre-humana.

Quando fui assistir, no ano passado, a Alain de Botton em sua conferência no projeto “Fronteiras do Pensamento”, meu amigo Pierre Moreau me propiciou conhecê-lo. Após assistir a sua fala sedutora, a mostrar os benefícios que o Cristianismo legou à civilização, indaguei porque não ficava com o “pacote inteiro”. Ou seja: ele afirmou que a religião promovera obra magnífica em termos artísticos.

O que seria do mundo sem as pinturas, as esculturas, as músicas produzidas pelo cristianismo? Também graças à religião, a humanidade aprendera a se organizar, a viver comunitariamente, a disseminar concepções de vida. A educação religiosa ainda hoje é um nicho de excelência, diante da evidente incapacidade estatal de treinar pessoas para serem felizes. Ora, se a religião é artífice de tantos benefícios, por que já não incorporá-la com a ideia que fomentou tudo isso, ou seja, o próprio Deus?

Por que se aproveitar de tudo o que o Cristianismo legou ao mundo e afastar Deus desse projeto em curso e, à evidência, tão exitoso? Agora encontro um argumento a mais a favor do criacionismo. Acabo de ler “Bauman sobre Bauman”, um diálogo levado a efeito na primavera e verão do ano 2000. Keith Tester, estudioso de Bauman, o instiga a falar de si e do mundo. Lá pelas tantas, Zygmunt Bauman diz: “Admito que, como uma história da passagem do nada ao ser, acho a narrativa do “big bang” muito mais pobre que a história do trabalho de Deus em seis dias.

E menos esclarecedora. Não há nela um personagem para nos informar, após frações do primeiro segundo, se aquilo que emergiu do puro “nada” era bom ou mau”. Não precisava dessa confirmação. Mas fico mais confortado, porque um dos mais instigantes pensadores contemporâneos também não se convence da tese ateísta, propagada qual verdadeiro evangelho por aqueles que não creem e, não satisfeitos, querem que o mundo inteiro também perca a fé.