A Convenção Nacional Republicana (NRC, na sigla em inglês) havida em Tampa, Flórida, entre 27 e 30 de agosto, era esperada, principalmente pelos republicanos – candidatos e eleitores – como a grande chance do Mitt Romney finalmente se revelar e convencer os americanos, com idéias racionais e planos viáveis, de que ele, sim, é o líder competente, capaz de tirar o país mais poderoso do mundo das trevas em que Obama o colocou…
Havia a ameaça do furacão Isaac, mas a natureza foi solidária e passou ao largo, despejando sua fúria na mais acostumada New Orleans e seus muros de contenção pós-Katrina, que precisavam mesmo ser testados.
Com toda a pompa e a circunstância que o dinheiro dos magnatas republicanos pode comprar, o mórmon de Utah, nascido em Michigan, ex-governador de Massachusetts, e, acima de tudo, o melhor empresário que a América produziu, travestiu-se de pastor do senhor, com a divina missão de livrar esse povo sofrido das garras do demônio preto e levá-lo (o povo-rebanho) de volta à terra, digo, àquela antiga prosperidade americana prometida – ou sonhada!
Quando? Como? Irrelevante, porque enquanto a praga econômica decorrente da incompetência do atual presidente durar, aquela metade do povo americano que lhe interessa, de fé demais e razão de menos, vai provavelmente eleger o Messias, tornado “real” pela expressão do rosto, o olhar manso e a impostação da voz – às vezes até embargada pelo “choro contido”! – pelos emocionantes testemunhos de esposas apaixonadíssimas e filhos admiráveis, pelos companheiros de partido, incluindo o belo vice Paul Ryan, e pela platéia vulnerável.
Contudo, apresentar o Clint Eastwood, o Dirty Harry, ícone do cinema americano, como um velho senil, “falando”, com extrema dificuldade pra articular as palavras, com uma cadeira vazia que representava o Potus (*), o atual presidente americano no palco, objeto da crítica mal dita, pode ter sido não somente uma demonstração da falta de limites na competição pelo poder, mas um tiro no próprio pé…
Obama tem declarado que não se ofendeu, eis que sempre foi fã incondicional do Clint, mas o mal parece estar feito.
A possibilidade da fé pura e simples prevalescer sobre a razão – divino dom dos homens! – sempre foi explorada na manipulação das massas, desde quando o homem passou a ter medo do escuro, no princípio da história humana.
Ocorre que essa mesma história comprova que os americanos, tanto quanto o resto da humanidade, se livraram de seus maiores males – e conquistaram os melhores benesses! – quando preteriram esse tipo de fé pela razão analítica e contestadora do mundo que os cerca.
Mas, o que se percebe na prática, no meio em que me encontro, é que conversa de republicano lembra muito aquelas conversas de bêbado em botequim de periferia: é muito mais fácil sair facada do que uma nesga de racionalidade!
Eu, como leigo, acho que, embora a embriaguez possa reduzir a atividade cerebral, não deve interferir no número de neurônios que o invíduo tem.
Assim, esperar pela sobriedade não imagino que resolva o problema…
O comportamento camuflado e a escolha religiosa do “profeta” Mitt Romney tem muito mais a ver – que os mais fiéis me deem a outra face! – com o homem branco, machão e egoísta, do que com o pretenso líder de todas as raças e de todos os credos, solucionador dos problemas alheios.
Pela importância que os Estados Unidos têm para o mundo, não só pela influência – para o bem ou para o mal – mas também pelo que pode oferecer, como cliente e fornecedor, no campo material, espero que os democratas e seu presidente consigam ser mais persuasivos na sua convenção, que começa nesta terça-feira em Charlotte, na Carolina do Norte!
(*) POTUS, acrônimo para President of the United States.