O mito do “progresso” causou muitos males. Em nome dele, devastou-se a natureza, canalizou-se o curso d’água, impermeabilizou-se o solo. Visão miserável de desenvolvimento, que refuga a vida campestre e multiplica os periféricos do capitalismo em cidades desumanas. O problema contemporâneo é que as pessoas se acotovelam nas conurbações.
Preferem viver ou sobreviver amontoadas, enquanto vastas regiões interiores têm reduzida densidade populacional. O mundo das cidades, além de possuir 65% da população planetária, congrega 75% da economia e 85% da poluição produzida por uma espécie que só sabe transformar quase tudo em lixo. O sensato seria retardar o ritmo da urbanização. Mas isso é nadar contra a corrente.
As Câmaras Municipais em regra acreditam prestar serviço à cidadania quando reduzem a zona rural e incluem na massa urbana as partículas ainda pouco sacrificadas. O arquiteto holandês Reinier De Graaf, que integra o AMO, Centro de Pesquisa e Design Urbano com sede em Roterdã, sustenta que hoje as cidades nascem, crescem, incham e colapsam. É urgente romper esse ciclo.
Quem o conseguirá? A ONU também se preocupa com o fenômeno da explosão urbana. Dedicou 2014 à agricultura familiar. A família a semear, a capinar, a colher e a renovar a terra. Tradição que o Brasil e, principalmente, São Paulo já viveu, mas que trocou por um desumano modo de subsistência.
A favelização, a distância entre a moradia e o trabalho, as subcondições existenciais que não abrem perspectiva para uma infância entregue à educação capenga e a um projeto incompetente de concretização de outros direitos fundamentais. É urgente que os pensadores lúcidos obriguem a administração pública a um plano consequente de resiliência urbana.
Ele seria implementado em quatro fases: resistir, retardar, reter e descarregar. Resistir às intempéries, que se tornarão cada vez mais frequentes, ante o descaso de todos em relação ao meio ambiente. Retardar significa multiplicar as áreas verdes, vastas e porosas, para absorção das águas. Reter consiste em construção de cisternas, açudes, represas e bacias de retenção. Descarregar é planejar o sistema de drenagem, para controle do bem finito e precioso que é a água. Quem se habilita a investir nisso?