Os profissionais do direito são afeiçoados à palavra. Por isso é comum que não se satisfaçam com petições, pareceres, sentenças ou acórdãos. Enveredam pelas letras e escrevem poesia, romance, ensaio e todas as demais formas literárias. Para permanecer entre os atuais, Ives Gandra é poeta e teatrólogo, Eros Grau é romancista, assim como Miguel Reale Júnior.
Ayres Brito também faz poesia, Massami Uyeda incursiona pelos hai-kais, Roberto Delmanto escreve contos e agora Antonio Cláudio Mariz de Oliveira oferece suas deliciosas “Crônicas Absolvidas”. A facilidade com que aborda temas da memorialística familiar e profissional é sedutora. Manuel Alceu Affonso Ferreira, que o prefaciou, confessou-se “capturado pelo seu charme aglutinador”.
E todos os que lerem seus relatos sentir-se-ão como eu, fascinados pelo percurso em tão boa companhia. Talvez pelo fato de termos nascido no mesmo ano, muita coisa é familiar. Por sinal que Antonio Cláudio, assim que o conheci, identifiquei um amigo de infância. Embora crescido em Jundiaí, a geração tem pontos em comum e até as leituras e influências são as mesmas.
Pontos coincidentes até nas agruras de ser avô, como se lê na gostosa página “Como sofrem os avôs!!!” Resgatei bons momentos vivenciados com seu pai, a quem conheci como Desembargador do Tribunal de Justiça, quando assessorei o Corregedor Geral da Justiça, Desembargador Sylvio do Amaral. Lembrei-me com carinho e saudades de seu irmão José Eduardo.
Precocemente falecido, desde então ficamos privados das gostosas comemorações do aniversário de Antonio Cláudio, que reuniam boa parte da “família forense”. Fazem falta, principalmente porque “Festa é coisa séria”, reconhece o cronista. Crônicas antológicas mereceriam figurar nos melhores acervos dessa tão difícil arte.
Saliento “Os Engraxates”, “O Tempo e as Idades do Homem”, “Cadeira de Balanço”, “O Bonde” e a insuperável “A História dos Sem História”, que consolidou minha intenção de retratar meu pai, em 2015, quando completaria um centenário. Muito bem vindo, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira. Continue a propiciar momentos de encanto com os retalhos de sua vida, tão bem costurados por sua generosa memória.