Em seu discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, na terça-feira, 24, a presidente brasileira afirmou que a espionagem cibernética americana no Brasil afronta os princípios de soberania e fere as normas mais elementares de direito dos cidadãos do mundo.
No tom arrogante e prepotente que sempre caracterizou a turma do PT desde o tempo das greves dos metalúrgicos – quando os grevistas batiam mais nos seus pares discordantes do que o governo militar nos ilegais de antanho – Dilma vociferou, verborréica, após breve introdução solidária às mais de 60 vítimas fatais do ataque terrorista num shopping center em Nairobi, Quênia, sua indignação pela intrusão dos gringos na conversa alheia, exibiu suas realizações em prol dos menos favorecidos e se gabou da maravilha democrática, pacífica e respeitadora de todas as demandas na qual o Brasil se transformou na última década…
“Ações ilegais são inadmissíveis!”, declarou a mandatária que, na juventude ativista, optava pela guerrilha clandestina ao palanque legal, e se envolvia em sequestros de outrem pra garantir a liberdade de algum correligionário.
“O Brasil sabe se proteger!”, replicou à alegação americana de que a caça à informação em qualquer parte do planeta visa o combate ao terrorismo internacional.
Exaltou o pasto evitando falar do boi inexplicavelmente magro, confundiu campo com camponês, enalteceu a fazenda omitindo o lavrador, separou o seu Brasil do brasileiro…
“O meu governo não reprimiu as manifestações de rua!”, vangloriou-se, esquecendo as prisões arbitrárias, as balas de borracha, as cargas e as descargas, os esguichos – de pimenta ou jato d’água – e os pés-de-ouvido de uma polícia aparentemente autônoma, que provocou o recolhimento estratégico da corte soberana, esperando que a poeira das ruas, descalçadas e esgotadas, baixasse.
Diante dos baixos índices de popularidade e da alta taxa de desaprovação do seu governo, ficou evidente que a plateia de Dilma Rousseff não era o “senhor presidente” da ONU, nem as 190 nações ali representadas, mas o seu eleitor tupiniquim, notadamente aqueles a quem a defesa da sua dignidade – e de vida mais decente – fica à mercê da sua devoção religiosa, que traz audácia extra-humana à esperança.
Como a audiência visada pelo palavrório joão-santanesco da samaritana Dilma se compõe, majoritariamente, daquela porção do Brasil que não sabe se proteger tão bem assim – e nem tem como mandar e-mail pra reclamar com seu santo – é possível que o show, transmitido por alguma associada da Globo na televisão do boteco da vila, surta o efeito pretendido de colocar a pele de lobo em cordeiro de fora, e rumar, aos berros, para as próximas eleições, contando sempre com a ajuda de Lula, o ex-presidente e agora candidato dublê…