A desindustrialização ameaça o Brasil?

Segundo matéria da Agência Brasil assinada por Luciene Cruz, o governo anunciou na semana passada a prorrogação da desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para alguns produtos da linha branca, que terminaria em 31 de março, para 20 de junho. A medida representará renúncia fiscal de R$ 489 milhões e as “indústrias beneficiadas não podem demitir”. A isenção para fogões, geladeiras e máquinas de lavar, e que agora inclui também novos setores como móveis e laminados é uma medida benéfica, mas ainda muito tímida.

A desindustrialização é a redução da participação da indústria no PIB. Para Luiz Carlos Mendonça de Barros (site Valor, 19/09/11) esse fenômeno teria várias causas, as mais importantes: o real forte e o crescimento das importações. No final do regime militar a indústria chegou a representar 48% do PIB, 28% às vésperas do Plano Real, 30% na passagem do governo a Lula e 26% no início do governo Dilma.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desaceleração no setor industrial teve uma baixa de 2% em janeiro.

Para o professor José Oreiro, da Universidade de Brasília (site Jornal do Brasil, 21/03/12): “O salário mínimo, que funciona como referência para as outras remunerações, tem aumentado mais do que a produtividade. Isso significa que o trabalhador, embora tenha produzido mais, teve o seu salário aumentado em proporção ainda maior”, isso fruto das políticas salariais dos últimos anos, e destaca que a remuneração tem que estar em consonância com a produtividade.

O governo também deverá anunciar hoje um pacote de R$ 18 bilhões para auxílio ao setor industrial, os quais deverão ser repassados basicamente através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bem como a queda nos juros, em torno de 1%, nos diversos planos de financiamento de máquinas e equipamentos de produção e caminhões.

Esses fatos demonstram que a indústria nacional está ressentindo sensivelmente as políticas econômicas, até aqui adotadas, para atender o grande fluxo de entrada de capital estrangeiro atraído pelas altas taxas de juros, o que gerou a supervalorização do real e castigou profundamente os exportadores.

Porém, as críticas básicas, que se repetem constantemente entre os empresários e economistas são: a elevada carga tributária, uma das maiores do mundo, alto custo da energia elétrica, a taxa de câmbio e spreads bancários, esses talvez os maiores do planeta.

O salário mínimo é sem dúvida o balizador da maior parte dos salários, e a política de aumento deste tem criado uma defasagem entre o alto custo da mão de obra em relação à produtividade.

A importação desenfreada é também uma das causas decisivas da desindustrialização nacional, e que obriga agora o governo correr para fechar a porteira com medidas de urgência.

Enfim, o custo da produção industrial no país supera em muito o dos Estados Unidos.

Não se pode negar o grande mérito das políticas econômicas dos últimos quinze anos, que impulsionaram a economia como um todo, como o aprimoramento e crescimento da agroindústria, por exemplo.

Mas não se pode perder de vista também que a “Farra do Crédito”, que inebriou os Estados Unidos e a Europa por dez anos e que resultou na maior crise econômica da história, foi um fator decisivo para colocar o Brasil na posição favorável como membro dos BRICS.

Em outras palavras, não obstante as administrações econômicas acertadas que tivemos, o Brasil também foi muito favorecido com as consequências da crise econômica global.

Agora que os efeitos colaterais de tal crise começam a se manifestar e afetar nossa economia, evidenciam-se ajustes internos que ainda carecem de solução.

Em síntese, o principal alerta vermelho é que a queda da indústria no PIB é prova do processo de desindustrialização no país.