O ser humano é uma criatura complexa. Precisa de muita coisa para sobreviver. Continuar a existir é um verdadeiro milagre, tantas as ciladas postas no caminho de reduzida extensão. Algumas décadas, nada mais! À medida que se ultrapassa o que seria – em tese – a metade da existência, constata-se que dez anos passam rapidamente. Demora é o tempo da doença. A espera do que não vem. Mas enquanto se vive bem, o calendário se acelera e não deixa perceber a passagem do tempo.
Durante a presente gestão à frente da Corregedoria Geral da Justiça, pensamos em propiciar ao quadro pessoal do Judiciário paulista alguma coisa concreta em termos de qualidade de vida. A Corregedoria é órgão disciplinador, de controle e fiscalização. Não tem benesses materiais a distribuir. Mas pode colaborar para tornar menos aflitiva a experiência funcional. O projeto “Qualidade de Vida” trouxe pessoas incríveis para conversar com os funcionários. Encontros presenciais e à distância, propiciados pelas tecnologias de comunicação e informação.
Ali já estiveram Ignácio de Loyola Brandão, José Pastore, os “rappers” Criolo e Dexter e, recentemente, a maravilhosa Lygia Fagundes Telles. Fala com espontaneidade o que lhe vem à mente. E tudo é um encanto. Inebria o auditório. Oportunidade excepcional de ouvir uma das maiores romancistas do mundo. Com a qual temos o privilégio de conviver.
Paulo Bomfim, seu amigo há mais de meio século, cuidou de incentivar um diálogo que emocionou todos os presentes. E até escreveu um texto, que ora partilho com meus fiéis leitores: “Lygia e seus personagens vão chegando na manhã. Surgem dos contos, das lendas, dos romances, das novelas. Vêm das Arcadas dos sonhos, das praças das nostalgias, das ruas de seu mistério. Lygia e seus personagens atravessam multidões.
Varam os muros do tempo, assombram os casarões, sonham varandas de angústia. Vivem ruas de ternura e vielas de segredo. Aportam neste momento com seus perfis assombrados, suas capas de surpresa e roupagem de paixão. Lygia e seus personagens vão surgindo na manhã, apaixonam nossas vidas e chegam para ficar”.
Nem só de dinheiro precisam as pessoas, mas de sonhos, fantasia e amor.