Identificada como o farol da sociedade, por seu poder de irradiar opinião, a classe média, não brilha mais como no passado. A observação pode até parecer uma contradição em face de análise e projeções que a colocam na liderança das classes sociais em futuro próximo. Em 2013, segundo o Banco Santander, a classe média latino-americana terá 70 milhões de pessoas, tornando-se maioria no continente.
Outro banco, o Goldman Sachs, indica que a classe média no Brasil, na Rússia, na Índia e na China, hoje com 220 milhões de pessoas, deverá atingir dois bilhões de pessoas em 20 anos.
No Brasil as coisas são diferentes. Seu espaço começa a ser ocupado por outras referências, oriundas de grupamentos periféricos, que se organizam, ganham força e autonomia. Entre nós, a crescente afluência das margens se deve ao estreitamento das distâncias entre as classes B, C e D, que revigoradas por programas de redistribuição de renda e sob ambiente de inflação baixa e maior acesso ao crédito, se inserem fortemente no mercado consumidor. E assim a pirâmide social ganha novo traçado. O topo continua bem inclinado, a denotar a hipótese de que, no Brasil, os ricos se tornam cada vez mais ricos.
O grau de inclinação do meio da pirâmide, porém é mais largo, na perspectiva de uma classe média alta que se comprimiu e de uma classe média típica que se expande com a incorporação dos estratos de baixo ambiente. Este é o novo ambiente social em que se opera a política. A bandeira republicana, com os valores da ética e da dignidade, do respeito ao império do Direito e da Justiça, historicamente desfraldada pelas classes médias, agora cede lugar à bandeira franciscana, cujo lema é: “É dando que se recebe”.
O Governo Federal, manada política de instintos apurados, percebeu que a ”nebulosa social” brasileira difere das nebulosas planetárias formadas por estrelas no ciclo final de vida. Aqui, as estrelas são novas e dispõem de muito espaço para expandir a luz.