A presidente Dilma Rousseff está arriscada a completar o seu mandato com um
balanço sinistro, um crescimento econômico próximo de 2,2% ao ano, em média.
Será esse o resultado se o produto interno bruto (PIB) avançar 1,8% em 2014.
Será um desempenho bem inferior à média mundial de 3,6%, segundo estimativa
do Fundo Monetário Internacional (FMI) – e muito distante dos 5,6% esperados
para os países emergentes e em desenvolvimento. Mas a estagnação poderá ser,
e quase certamente será, apenas um dos componentes mais feios do quadro
brasileiro se o rumo da política for mantido. As contas públicas estarão
mais desajustadas, o balanço de pagamentos, mais esburacado, a inflação,
distante da meta, e a imagem do País, prejudicada no mercado internacional.
Não só os brasileiros percebem a maquiagem fiscal: “medidas contábeis para
atingir a meta de superávit primário reduziram a transparência”, segundo
relatório publicado na quarta-feira pela Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos países desenvolvidos e de
alguns emergentes de boa reputação. Boa imagem é essencial para um país com
déficit em conta corrente já na casa de 3% do PIB e com perspectiva de
aumento. Não se mede reputação só pela capacidade do Tesouro de captar
dinheiro no exterior, principalmente quando paga juros muito mais altos que
os do mercado internacional. Mede-se também pelo ingresso do investimento
estrangeiro direto, insuficiente, a partir de fevereiro e março para cobrir
o buraco nas transações correntes. Investimento direto tende a ser menos
especulativo e mais seguro para as contas externas do que outras formas de
financiamento. Além disso, representa, em geral, um compromisso de longo
prazo com a economia do país receptor. Deficit de conta corrente de 2,78% do
PIB, saldo de investimento direto equivalente a 2,69% do PIB completam o
quadro macro econômico. O Executivo federal apenas começou, muito
lentamente, o combate aos desajustes internos. A nova Lei dos Portos é um
raro exemplo de acerto. Em contrapartida, as desonerações, mal concebidas e
amplamente improvisadas, são ainda os componentes principais do arsenal da
política econômica, apesar de sua comprovada ineficiência. Além disso, o
compromisso com a seriedade fiscal é cada vez mais frouxo. Não se discute
mais, em Brasília, se o governo será capaz de alcançar a meta, mas se usará
ou deixará de usar toda a lista, cada vez mais ampla, de redutores do
superávit primário. Contra esse fundo, a decisão do BC de levar a sério a
inflação e acrescentar meio ponto porcentual à taxa básica de juros tem um
brilho espe