“Eu vou votar neste cara pro Maluf não ganhar!” – era a frase que eu mais ouvia dos amigos nos dias de votação no Brasil.
Paulo Salim Maluf fortaleceu-se politicamente no apogeu da ditadura, e, por pertencer ao partido que apoiava o regime militar, foi indicado candidato a presidente, nas eleições via ‘Colégio Eleitoral’ de 1985.
Perdeu para a oposição representada por Tancredo Neves, e sua imagem passou a ser associada pelo eleitorado – pelo menos nos primeiros anos do retorno da democracia do voto direto – a tudo de ruim que havia na caserna.
Essa imagem negativa, fomentada pelas ‘bobagens’ que deixava escapar – do tipo “estupra, mas não mata” – e pela fama de desonesto que deu um jeito de criar, elevou à estratosfera os seus indices de rejeição.
A rejeição a Maluf certamente ajudou a eleger muito oponente não-necessariamente de melhor qualidade no Brasil.
Aqui nos EUA não tem sido muito diferente…
Embora as campanhas negativas de ambos os candidatos, especialmente as veiculadas na televisão, tenham conquistado mais a frustração do que o entusiasmo do eleitorado, Mitt Romney parece estar insistindo em contribuir mais pra sua própria rejeição do que Obama.
A gafe de um auxiliar sobre o bom relacionamento com o Reino Unido ser baseado na comunhão da herança anglo-saxônica – o sogro de Romney emigrou do País de Gales (que, por sinal ainda é, jure et facto, celta, na história e na língua, e não anglo-saxão) – refletiu mal internamente.
O comentário grosseiro de Mitt, ‘na cara’ dos anfitriões, de que Londres não estava pronta pras olimpíadas parece ‘pérola do Enem’, e ganhou disparado do brinde inapropriado do Obama à rainha, em plena execução do God save the queen, naquele banquete de 2008.
Claro que a imprensa inglesa não perdoou: “Mitt, the twit” (“Mitt, o babaca”), “The nowhere man” (clara alusão à canção dos Beatles, no sentido de bobalhão) e “Who invited party-pooper Romney?” (“Quem convidou Romney, o desmancha-prazeres?”).
Nem o prefeito de Londres, Boris Johnson – bom de gafes! – deixou ‘barato’ diante de uma audiência de 60.000 pessoas: “There’s a guy called Mitt Romney who wants to know if London is ready. Are we ready?” (“Tem um cara aí chamado Mitt Romney que quer saber se Londres está pronta. Nós estamos?”)
O primeiro-ministro David Cameron também não conseguiu se conter: “Estamos organizando jogos olímpicos numa das mais atarefadas e agitadas cidades do mundo. É claro que é mais fácil fazê-lo no meio do nada!”, declarou, numa referência aos jogos de inverno de 2002, em Utah, organizados por Romney.
Os “twitteiros” dos dois lados do Atlântico fizeram a festa!
Pelo andar da diligência, parece que será mais fácil pro Obama ganhar essa eleição do que o foi pra Dilma ganhar do Serra no Brasil…
As gafes, cometidas por quem está tentando mostrar quem é, e a que veio, revelam muito mais que deslize de oratória.
No caso de Mitt Romney revelam um perfil e um despreparo que o eleitor americano não parece estar gostando e não deverá deixar passar.
É indiscutível que eleger um representante com poderes é sempre uma aposta de quem vota, tanto mais arriscada quanto maior o poder implicado, e nada mais distante do eleitor ordinário do que um candidato a presidente.
Os debates já agendados pra outubro – dia 3 no Colorado, dia 16 no estado de Nova Iorque e dia 22 na Flórida – deverão ajudar a mitigar o risco.
E, nessa corrida, aqui sempre em ritmo de empate técnico, qualquer ‘casa depois da vírgula’ pode ser decisiva!
Se houve engano na aposta, só o exercício do mandato o revelará, eis que, antes deste, nada garante que ‘daqui pra frente, tudo vai ser diferente’, a não ser as promessas geralmente vãs e contraditas pelas gafes…