FALTA ÁGUA, SOBRA DESERTO

A desertificação não cessa de avançar por causa do uso insustentável da
terra, de mudanças climáticas e de práticas como o uso de carvão vegetal
como energia. A África e a Ásia são os continentes onde o problema é mais
grave. Se é difícil reverter à desertificação, é possível evitá-la, não
sobrecarregando as áreas vulneráveis. E isso ajuda a evitar a pobreza e o
êxodo para as cidades, com todas as conseqüências dramáticas que costuma
ter. O Brasil não está fora de questão. Já temos mais de 180 mil km²
desertificados no Semi-Árido nordestino. Dos 11 Estados mais atingidos (9 no
Nordeste), uma das situações mais graves é a Pernambucana, onde 148 dos 185
municípios estão em áreas onde o processo está instalado ou é ameaça. No
Nordeste, a causa mais freqüente é o uso excessivo de solos frágeis, com
pastoreio insustentável. Na média, na região são necessários de 5 a 20
hectares de terra para manter uma cabeça de gado em pastagem nativa. Outra
causa pode ser o desmatamento, seja para o uso de lenha nas residências,
seja pelo uso industrial . Começa-se a deixar de lado antigas concepções
que, basicamente, tentavam “combater a seca” e levar para a região projetos
grandiosos de desenvolvimento concebidos para outras áreas do País que, em
geral, consumiam volumosos incentivos fiscais. Como as cisternas de placa,
que armazenam água da chuva para beber e cozinhar durante a estiagem. Ou
como as barragens subterrâneas, que permitem manter úmida e fértil durante a
estiagem uma área de terra suficiente para alimentar os moradores (R$ 3.500
cada). Ou barragens encadeadas, do projeto Base Zero, que também permitem
reter a água da chuva e fertilizar patamares. Ou os fogões ecológicos, que
reduzem em 70% o consumo de lenha. Ou os projetos de manejo florestal
sustentável do pólo gesseiro. São muitos caminhos, simultâneos com os de
geração de trabalho e renda na criação de cabras, na apicultura, na
fruticultura com espécies nativas, no artesanato em madeiras e fibras,
muitas coisas. Importante é a mudança conceitual, das “grandes obras” de
combate à seca para projetos localizados e adequados. Ainda há muito a
fazer. Para reduzir, por exemplo, a grave concentração de propriedade rural
(1,3% dos estabelecimentos rurais tem 38% das terras, enquanto 47% dos
estabelecimentos menores têm em conjunto 3%).