Farra, fanfarra, passeata e fuga

A palavra fuga é interessante: a sua definição vai desde o simples sair correndo, no linguajar comum, até a amnésia patológica na psiquiatria, passando pela música, onde consiste na repetição polifônica de um mesmo tema uma quinta acima ou uma quarta abaixo, nem que seja só pra soar diferente…

 

Observar as distorcidas missões – onde os desmandos é que mandam, o quem-fez-o-que? prevalece, e o pegapacapá é geral – as intromissões, os ataques e as defesas  entre os Três Poderes – ainda os mesmos “Podres Poderes” do Caetano! –  que governam  a república tupiniquim, parece ter se tornado o atual passatempo internacional.

 

Após o aparente vazamento na bolha que emergia, provocado pelo alfinete de algum gringo – sempre eles! – sem senso de humor, o Brasil começa a recuperar a seriedade que tinha no tempo do general De Gaulle.

 

E a gente faz por merecer…

 

Reclama da vigilância pelo satélite inventado lá fora, que invade a nossa soberania – entenda-se aqui os soberanos e outros pilantras fugindo do flagra – e tem linchamento de juiz em campos de futebol!

 

Fanfarrona-se pela suposta evolução e riqueza concedidas e continuam acontecendo ataques sexuais e estrangulamento de crianças até em parques de diversão!

 

E o amasso no transporte público superlotado, que se tornou preliminar de estupro – o que fazer pelo direito de ir e vir e pelo privilégio de ter um trabalho conquistado a duríssimas penas, já que o carro, imobilizado no congestionamento das poucas ruas, nos priva de ambos?

 

E os arrastões indigestos nos jantares em restaurantes,como se não bastasse o custo do arroubo de comer fora?

 

É verdade que tais tragédias não são exclusividade nacional, mas sua banalização pela inimaginável repetição e pela onipresença nas ocorrências é prerrogativa de poucos…

 

Que o digam as taxas de crimes de todas as laias, muito “melhores” que os altos indices da nossa economia, quando comparados com nações do chamado primeiro mundo!

 

Evidentemente, o Brasil real não é o mesmo dos que têm reais, e isso vem desde o tempo do tostão…

 

Com raríssimas, frágeis e fugazes exceções, estamos nas mãos de uma cambada de lesa-pátrias travestidos de zé-bonitinhos, tiozinhos com suas mulheres deslumbrantes 30 anos mais jovens – eis que o amor é cego, mas pode ser guru financeiro –  com a mesma função egoísta da ameba de se perpetuar.

 

A hipocrisia – o tributo que o vício paga à virtude, como dizia François de La Rochefoucauld há quatro séculos – generalizada, é tanta que deveria ser chamada de hipercrisia…

 

E, na terra do faz-de-conta, quem mente mais e melhor (ainda) faz o maior sucesso, a julgar pelo recente entrevero amigável de Lula – com o chulismo de sempre, agora mais despudorado pela senilidade – com universitários do ABC:

 

“Tem que protestá mesmo, porque a Dilma é uma ótima presidenta, e se o meu

carro não consegue sair do lugar – pqp, cadê o prefeito?

Porque, veja bem, enquanto na Europa eles protesta pra manter os privilégio, aqui no Brasil o pessoal qué mais…”

 

Só não conseguiu explicar que o pé-de-boi foi forçado (por ele e pelos áulicos oportunistas que o fizeram) goela abaixo com muita propaganda enganosa, pouco IPI e nenhuma preocupação com sua mobilidade, imaginada como naquele caso do ajudante de manobrista da piada: “vai daqui, se for daí…”

 

Nem tampouco esclareceu que na Europa os protestos são, basicamente, pra manter os seus privilégios de primeiro mundo, enquanto que os brasileiros lutam para conquistar algum!

 

Afinal, quando vamos perceber que civilizar-se é pré-requisito pra se desenvolver, e que enésima economia é só um truque de estatística?

 

Quando o mundo civilizado invadir ainda mais a nossa soberania – pra ira dos tais soberanos – e nos emprestar os seus politicos menos remunerados e mais ciosos, o seu empenho menos cúmplice no combate ao crime, e as suas escolas, incluindo as de medicina?

 

Tomara!