Quando se apresentaram para o debate em Boca Raton na última segunda-feira, tanto Barak Obama quanto Mitt Romney tinham uma só instrução de seus chefes de campanha: conquistar o voto do eleitor indeciso.
Numa das eleições presidenciais mais acirradas que já houve, onde já se começa a cogitar que o congresso seja acionado pra interferir num eventual empate – em que cada candidato fique enroscado em 269 votos dos delegados dos respectivos colégios eleitorais, quando são necessários 270 pra ser eleito – cada voto pode ser decisivo.
Os indecisos do Obama questionam a sua força de líder e a sua capacidade de resolver os problemas da economia, notadamente a falta de emprego.
Já os indecisos do Romney, a sua belicosidade, eis que heróis que tombam – ainda que sob fogo amigo – defendendo a liberdade nos quatro cantos da terra são tão necessários aqui quanto a caminhonete, a espingarda e a cerveja (de preferência os três juntos); desde que sejam o filho (ou a filha) dos outros…
Não foi à toa que Obama, o commander-in-chief, enfatizou o tempo todo essa condição, bem como os avanços que a economia americana tem tido sob sua administração.
Também não foi sem razão que Romney, o prepotente candidato republicano, procurou se conter – pelo menos sempre que se lembrava das instruções de seus marketeiros – e se portou, na maior parte do debate, como um híbrido do Frei Damião com a Madre Teresa de Calcutá, dando a impressão de ser o maior cabo eleitoral que o presidente democrata já teve, tamanha a identidade de intenções…
O melhor mui amigo de toda la gente!
Deu a impressão que, se pudesse, até recomendaria a reeleição do presidente!
Barak Obama – como era de se supor ser a rotina do ocupante do cargo por 4 anos – discorreu sobre política externa com ares de professor se esforçando pra não ser pedante, e o fez com maestria, aproveitando a maior parte das chances oferecidas pelo adversário.
Criou momentos desconcertantes, como quando disse que o ex-governador tem as “mesmas idéias, o que significa que ele acredita que nós estamos fazendo a coisa certa”.
Em outro momento feliz, diante da afirmação de que a marinha tem menos navios hoje do que em 1917, disse que há “também menos cavalos e baionetas, porque as forças armadas mudaram; há muito mais tecnologia e hoje existem porta-aviões e submarinos”.
Romney, carente de experiência no assunto, demonstrou , com irritação, sentir-se inferiorizado algumas vezes, mas se esquivou como pôde, voltando sempre à sua zona de conforto como vendedor de timeshare e politico de centro, como ninguém que o viu e o ouviu em toda a sua campanha jamais imaginou que fosse…
O atual presidente foi o protagonista vencedor do show, mas Romney resistiu bravamente em seu objetivo de parecer menos beligerante e mais conciliador.
Resta saber, daqui a duas semanas, se conseguiram acordar algum indeciso.
O Brasil, como a grande maioria dos países capitalistas livres, torce para que os Estados Unidos tenham um presidente que não veja a América como a Ilha do Tom Sawyer no Magic Kingdom, protegida pelo seu forte com paliçada, mas como mais uma peça vital – e altamente dependente! – no organismo único que é o planeta Terra…