Punxsutawney Phil (pronuncia-se “pank-ssa-to-ni fil”) é um cão-da-pradaria, do gênero de roedores Cyonomys, nativos da América do Norte, animais a quem se dedica o dia 2 de fevereiro (Groundhog Day).
Ganhou nome e fama porque, desde 1887, na cidade de Punxsutawney, Pennsylvania, o animalzinho, em meio a muita música e comida farta, é solicitado a prever a chegada da primavera.
Sua técnica é simples: se, ao sair da toca, vir sua sombra, corre pra dentro, indicando que o inverno ainda perdurará por seis semanas; se não, fica pra fora e cai na gandaia, sinalizando que a primavera chegará mais cedo, em quatro semanas…
Claro que, como qualquer outro meteorologista com muito mais tecnologia, quase nunca acertou. Mas tem contribuído muito para animar essa festa da cultura americana.
Melhores videntes, as garças-azuis-gigantes, em impressionantes acrobacias e gazeio, recomeçam a alçar voo – de reentrosamento do bando e de avaliação das massas de ar – informando o seu breve retorno às terras do norte, logo-logo habitáveis de novo.
E, ao revoar, se despedem à francesa deste pseudofloridense maravilhado…
Bicho profeta e folclore humano à parte, o fato é que estes têm sido dias de excessos da mãe natureza.
Acima do Trópico de Câncer, em meio a nevascas e quedas de temperatura históricas, as doenças respiratórias proliferam apesar das vacinas, embora não arrefeçam os ânimos dos atletas e fans do Super Bowl – campeonato de futebol americano profissional, iniciado no dia do groundhog e assistido por 110 milhões de fanáticos – nem dos jogos olímpicos de inverno em Sochi – abertos com pompa na sexta, dia 7 – onde os banheiros são coletivos pra aumentar ocalor humano e a confraternização entre os que competem.
Perigo muito mais russo parecem ser as supostas bombas de pasta de dente!
Abaixo do Equador, o calor saariano e a estiagem obrigam as pessoas a optarem pelo banho de mar, apesar das praias impróprias para menores e para limpeza corporal.
Enquanto os atletas se empenham em conquistar novas marcas, os mensageiros do apocalipse procuram destacar os recordes de temperatura, esquecendo que nosso planeta arremete seus arroubos, sem clemência, aos que nele habitam desde muito antes da invenção do termômetro, da apresentação do El Niño ou da criação do chamado efeito estufa pelos humanos.
O desconsideração sazonal aos terrestres antecede até a invenção dos anos no calendário do homo sapiens.
O efeito mais cruel dos excessos do clima acontece, claro, na agricultura e na economia que dela decorre nos tempos modernos, quando se permite romper o equilíbrio frágil entre a produção e a demanda, dificultando o acesso via aumento de preço, dada a quebra natural da safra e a especulação artificial dos salafrários.
Exemplo disso é o aumento recente de mais de 20% da refrescante cenoura, de 16% da suculenta cebola e de 6% das reidratantes verduras e legumes nos mercados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Também lá no pasto seco, o boi come menos capim e mais grãos na forma de ração, que aumenta de preço e afeta o pão nosso de cada dia, nada mais que um punhado de grãos – neste caso, importados, ou seja, com o ônus extra do dólar forte.
Como a dança da chuva não fez chover na Cantareira, prenunciam-se dias piores.
Espero que o homem-da-pradaria nativo do Brasil – ainda que não chova ou faça sol! – não ceda aos caprichos da Terra e venda sua lavoura ao condomínio de preços acessíveis e muralhas impenetráveis, eis que sempre foi teimoso e inquebrantável como sua mula…
Mesmo que ela manque, a vaca vá pro brejo e azede a boca da égua!