Graças aos deuses (do Olimpo)!

Os deuses do Olimpo, originalmente doze, há muito tempo deixaram a Grécia e se espalharam pelo mundo afora.

Tal crime de abandono de lar foi inteiramente perdoado pelos mortais, dadas a sua divindade e a situação da economia grega, eis que seu país,  desde que deixou de ser antigo – e inventaram língua mais fácil! – nunca mais foi lá essas coisas…

Havia o Júpiter, o rei e o senhor dos céus, e Juno, a rainha; Netuno, o senhor dos mares; Baco, o deus do vinho e da celebração; Apolo, do conhecimento; e a Diana, a deusa da caça.

Havia também Mercúrio, o mensageiro e deus do comércio e dos ladrões (na época era muito mais difícil distinguir as duas classes); Minerva, a deusa da sabedoria; Marte, o deus da guerra; Vênus, a deusa do amor; Vulcano, o deus do fogo, e a Ceres, a deusa da colheita.

Esses deuses do Olimpo se multiplicaram, se instalaram em todos os cantos da terra e assumiram outros nomes, bem como a forma dos mortais, mas não perderam a essência divina, e nem o fascínio pelo louro e a glória, hoje com melhor patrocínio.

Atualmente se chamam Michael Phelps, a criança quase-autista (na infância apresentava sintomas de ADHD – attention deficit hyperactivity disorder, que pertence ao ‘espectro’ do autismo), que se tornou o atleta olímpico mais condecorado de todos os tempos.

Só não levou mais ouro por deficiência de atenção numa das provas – 200m borboleta, onde Chad Le Clos, apesar de estar em segundo, encostou na parede primeiro. E ficou evidente, pela expressão facial, que o super-atleta não gostou do ‘quase’ – que não faz muita diferença no jogo de malha e na granada de mão, mas nas olimpíadas, sim! – e partiu pra revanche na prova seguinte…

Se chamam ainda Ye Shiwen, a nadadora de 16 anos, que quebrou o recorde mundial nos 400m medley individual. Criada no país da discriminação sexual, a adolescente chinesa – que conseguiu nadar mais rápido que o nadador Ryan Lochte (também um ‘deus olímpico’) –  provou que não só o tamanho, mas também a anatomia não é documento!

Ou Katie Ledecky, a americana que, com apenas 15 anos, estabeleceu novo recorde mundial pros 800m livre, deixando pra trás a anfitriã inglesa Rebecca Adlington e a sua intenção de conquistar o bicampeonato olímpico em casa…

Ou Missy Franklin, que, com seus 17 anos, arrebatou nada menos – nadando mais! – do que três medalhas de ouro ‘com as mãos nas costas’, estabelecendo novo recorde mundial nos 200m costas.

São chamados também de Fab Four – Ed Clancy, Geraint Thomas, Steven Burke e Peter Kennaugh – os ciclistas ingleses que superaram a marca mundial anterior, diante dos quais nem a realeza inglesa se conteve, e os reverenciou.

Ou de Fab Five –  McKayla Maroney, Aly Raisman, Gabby Douglas e Jordyn Wieber – as meninas americanas da ginástica artística que encantaram o mundo e deixaram as russas chorando.

Ou de Flying squirrel (esquilo voador) – Gabrielle (Gabby) Douglas – a garotinha de 16 anos que, ignorando que a gravidade existe, conquistou o ouro, não somente na modalidade por equipe (Fab Five acima), mas também na ginástica artística individual e se tornou a primeira negra a fazer isso. Deprimida com a separação dos pais que quase a fez desistir das olimpíadas, agora mal terá tempo de administrar o assédio de patrocinadores, cuja lista irá muito além dos fabricantes de cereais matinais, e da conta bancária!

E, saindo do ar e da água, há ainda os que correm como cheetahs africanas imunizadas do cansaço naturalmente fácil… saltam às alturas e à distância, às vezes ao mesmo tempo… jogam sozinhos ou em grupos sincronizadíssimos… lutam e duelam de todas as formas pra derrotar os seus próprios limites e conquistar a vitória – com as mãos nuas, as próprias pernas (ou suas próteses), ou com os aparatos que inventaram, expondo, enfim, toda a sua divindade, maravilhando os mortais que os observam hipnotizados…

Quando os deuses do Olimpo  – cuja enorme lista de nomes, e de competições que disputam, não caberia num só post – resolvem se mostrar, ganhamos nós que assistimos a esse espetáculo de extraordinária beleza – a beleza das suas proezas e das suas formas humanas.

E em tempos de pão difícil, o espetáculo do circo parece ainda mais grandioso!