O que há, Caraguá?

É com tristeza que leio a notícia: Caraguatatuba é a cidade mais violenta de São Paulo pelo terceiro ano consecutivo. Não sou exatamente um frequentador de Caraguá, caminho obrigatório de quem vai para Ubatuba e para as demais praias do Litoral Norte. Mas já fui Promotor de Justiça ali atuando, quando titularizava a Promotoria de Ubatuba.
Estive recentemente a fazer palestra num belo Teatro Municipal, a convite de meu amigo, o desembargador federal Vladimir Passos de Freitas, em tempos idos meu colega de Ministério Público. Outra vez acompanhei o Deputado Gabriel Chalita num evento para a juventude, promovido pelo bispo de lá.
Vi que a orla está bonita, lembrando as melhores praias do nosso maravilhoso litoral, quando escolhidas por pessoal de bom poder aquisitivo. Então, o que acontece com a trivialização da vida num lugar tão privilegiado?
Parece que além de embelezar a estética urbana, a comunidade precisa cuidar da estética da alma. O que se propicia às crianças de lá? Têm esporte à vontade, o que não é difícil nas cidades litorâneas? Encontram acolhida institucional, aquelas de lares desestruturados? O que se faz para conscientizar os pais, mestres, cidadãos lúcidos, para salvar a mocidade da droga e da falta de perspectiva?
Família, escola, Igreja e demais instituições devem zelar pelo futuro de um Brasil que teria tudo para desabrochar, mas que se afoga em índices os mais trôpegos do verdadeiro desenvolvimento. Aquele que interessa de fato: o índice de qualidade de vida, o índice de satisfação, o índice da esperança. Não interessa bolsa disto e bolsa daquilo, sem a “bolsa da esperança”. Esta é intangível, não se traduz em cifra. Alimentar-se é essencial, mas o alimento do espírito é mais importante do que o saciar físico.
Caraguatatuba lidera um ranking vergonhoso. Taxa de 28,3 homicídios por 100 mil habitantes, o triplo daquele verificado no Estado de São Paulo. Acompanham-na Rio Claro, Itaquaquecetuba, Taubaté, Embu das Artes, Cubatão, Jandira, Itapevi, Hortolândia e Franco da Rocha, aqui tão perto.
Diante disso, cumpre à comunidade empenhar-se para cuidar melhor de sua gente. Porque as vítimas dos homicídios são sempre jovens. Rapazes em sua maioria. É um subproduto cruel do flagelo da droga.