A Itália, com seus pouco mais de 60 milhões de habitantes, ainda não tem governo, mas o Vaticano, com seus 1,2 bilhões de súditos, já tem o papa…
Quando a fumaça branca finalmente saiu pela chaminé de cobre da Capela Sistina, Roma e seus católicos apostólicos – espalhados pelo mundo, mas mais numerosos no Brasil – ficaram sabendo que os 115 cardeais (*) reunidos no conclave, jovens o suficiente pra votarem, haviam escolhido o seu papa.
O argentino Jorge Mario Bergoglio é o primeiro jesuíta – apesar de toda a fama de José de Anchieta e Manoel da Nóbrega – a chegar ao pontificado.
É também o primeiro papa de fora da Europa desde o século oitavo e o primeiro patrício de 40% de todos os católicos batizados, eis que a América Latina concentra quase 500 milhões de fiéis.
A Cúria Romana, que aparentemente enfrenta disputas de poder entre os internos do Vaticano e o restante do consistório desgarrado – notadamente aqueles que pressionam em inglês e alemão por reformas na administração central da igreja – chegou a um consenso.
Contudo, considerando-se os 76 anos do escolhido, tal entendimento parece transitório.
Diante da grande perda de fiéis, especialmente os mais jovens, o novo papa revela sua prioridade – como seu antecessor frustrado – na evangelização via reforma estratégica e estrutural de uma igreja “que não funciona mais”, segundo dom Claudio Hummes, o cardeal brasileiro arcebispo emérito de São Paulo.
Tal intenção é sinalizada pela escolha do próprio nome papal, Francisco, inspirado no reformador São Francisco de Assis e no primeiro missionário jesuíta, São Francisco Xavier.
O sumo pontífice enfentará obstáculos quase intransponíveis – paradoxos que estão encruados no cerne da religião – representados pela visão dicotômica da sua igreja quanto aos temas celibato, ordenação de mulheres, contracepção – como abolir a camisinha na África sem condenar à morte milhares de inocentes, por exemplo? – aborto, adoção de crianças por homosexuais, eutanásia e outros tantos assuntos que têm distanciado cada vez mais os seus crentes da evolução dos costumes dos homens e da consequente adaptação das suas leis.
Em seu primeiro discurso na sacada da Basílica de São Pedro, o papa Francisco já chamou a Argentina, terra de onde veio, de “fim do mundo”, e los hermanos o têm acusado de colaborar com a junta militar que governou seu país de 1976 a 1983, implicar com a política de direitos humanos de Nestor Kirchner em 2009 e acusar a mulher deste e atual presidenta, Cristina Kirchner, de tentar destruir os planos de Deus ao aprovar o casamento de homossexuais.
Maradona – que não tem papas na língua – disse que “a Argentina já tinha o Deus do futebol (referia-se a ele ou a Messi?) e agora tem também o papa”, opinião esta, pelo jeito, não compartilhada pela dona Cristina…
Só o tempo dirá se o novo papa conseguirá convencer seus cardeais mais ortodoxos – que já aprenderam a tuitar! – de que paróquia vazia não para em pé!
(*) O chamado Colégio Cardinalício é composto atualmente de 184 membros, mas 66 ultrapassaram a idade-limite de 80 anos e não podem mais participar do conclave.