Dá pra (se) entender?

O Senado americano aprovou, neste sábado, a proposta de redução do débito fiscal via aumento de imposto de renda dos mais ricos.

É o primeiro plano orçamentário aprovado pelo Senado, de maioria Democrata, em quatro anos.

Tal proposta – de 3,7 trilhões de dólares – não será ainda colocada em prática, mas reitera mais uma vez as profundas diferenças entre Democratas e Republicanos quando o assunto são o aumento de impostos, os gastos e o tamanho do governo (leia-se intromissão na vida privada, aqui bem mais individualista e competitiva do que na América do Brasil).

Adicionalmente, essa votação abre o caminho para a próxima fase da batalha do orçamento de Washington, a qual provavelmente se dará pela necessidade de aumentar o limite do débito americano, eis que a autoridade do governo federal pra tomar dinheiro emprestado termina em 19 de maio próximo.

O orçamento do Senado basicamente utiliza a poupança pública pra financiar sua objeção ao corte automático de gastos conhecido como sequestro (1,2 trilhões de dólares), e deixa muito pouco espaço pra qualquer redução adicional do déficit.

A posição dos senadores difere acentuadamente daquela adotada no começo da semana pela Câmara Republicana, que propôs equilibrar o orçamento em dez anos, mediante profundos cortes em programas de alta sensibilidade política.

Em outras palavras, os deputados republicanos têm defendido a poderosa minoria de Tio Patinhas e suas casas-fortes e os senadores democratas parecem mais concentrados nos milhões de Patos Donalds que fazem filas pra votar.

O placar dos senadores foi de 50 a 49, ou seja, os senadores quase vão à disputa de pênalti, varando a madrugada, pra finalmente decidir pelo endosso da medida fiscal que propõe angariar um trilhão de dólares através da eliminação de créditos de impostos dos mais ricos e da poda de gastos com defesa nacional, com subsídios à agricultura e com outros programas.

As duas Casas dificilmente chegarão a uma proposta única, mas o mercado financeiro tem se mostrado despreocupado em relação ao fato de que o déficit no orçamento pressiona e leva o débito federal a níveis estratosféricos: o rendimento dos títulos do Tesouro chegou a 1,93% ao ano na tarde de sexta-feira, comparado com a média de quase 5% ao ano nos últimos 20 anos, e o índice Standard & Poor 500 apresentou ganho de 9,2% neste ano, fechando a 1.556 pontos.

Pelo que temos visto ultimamente, seria bom que os legisladores americanos procurassem acompanhar o seu mercado, porque este, se se arrebenta, leva junto seus seguidores, como o Jim Jones naquela Jonestown…