Fazendo a América há 500 anos…

Pela primeira vez em cinco anos, o serviço de imigração americano deverá recorrer de novo ao sorteio na concessão de visto aos estrangeiros recrutados por empresas privadas pra trabalhar no país.

Isto porque as solicitações para os 65.000 vistos H1-B, disponíveis às empresas para o ano fiscal de 2014, começaram a ser recebidas em primeiro de abril, uma segunda-feira, e já estouraram o limite de disponibilidade na sexta.

Cinco dias não é recorde no esgotamento rápido dos vistos de trabalho nas empresas do Tio Sam. Em 2007 demorou apenas um dia, e em 2008, dois.

Pelo que se vê, só os ingressos para os shows do McCartney no Brasil se esgotam mais rápido…

A procura por funcionários qualificados por parte das empresas americanas reflete a economia fortalecida, e isso é bom pra todo mundo.

O lado ruim é que, na prática, tal restrição de acesso ao trabalhador qualificado – venha de onde vier –  se revela totalmente arbitrária e desnecessária, e impõe grandes custos à economia dos Estados Unidos.

Segundo o economista Michael Clemens, do Center for Global Development, desde 2003 – e mesmo durante recessão – a demanda por visto de trabalho tem excedido o limite anual, sentenciando empresas a se privar de recursos humanos que teriam melhorado sua performance e fortalecido a economiacomo um todo.

Estudos têm mostrado que imigrantes qualificados são mais capacitados que os trabalhadores nativos pra desenvolver invenções patenteáveis, melhorar tecnologias e produtos existentes, ou começar novos negócios.

Os xenófobos de plantão sempre alegarão que os estrangeiros roubam emprego, mas o fato é que, dado o alto custo e a dificuldade de legalizar o seu trabalhador importado, poucas empresas se disporiam a optar pelo de fora se encontrassem o mesmo funcionário dentro de casa.

Medidas facilitadoras ao recrutamento do talento alheio fazem parte do pacote da polêmica reforma das leis de imigração.

Tais medidas incluem aumentar o limite anual para no mínimo 195.000 vistos H1-B, como acontecia em 2001 a 2003, quando as necessidades do setor tecnológico eram levadas mais a sério; prolongar a estadia legal dos estudantes estrangeiros graduados nas escolas americanas nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia ou matemática, hoje obrigados a deixar o país logo após a cerimônia de formatura, assim que descem os capelos; e facilitar a obtenção do visto ao empreendedor que deseja abrir um negócio na América tentando fazê-la.

É preciso agir logo e convencer os polifóbicos enrustidos do Legislativo – que rejeitam tudo que não é espelho – de que outros países estão se tornando mais atraentes aos cérebros mais ousados: o vizinho Canadá, por exemplo, acaba de lançar um novo programa de visto, disponível – em inglês e francês – a qualquer alienígena disposto a investir 74 mil dólares num novo negócio em suas províncias de densidade demográfica amazônica e civilidade britânica…