A carga do cargo

Obama anda menos convincente como presidente…

Embora tenha o cargo, parece estar perdendo o controle e a capacidade de convencer seus eleitores de que algum dia tivera realmente a administração da nação americana sob seu comando.

Em seu encontro com a mídia no dia 30 de abril, centésimo dia de seu segundo mandato, o presidente Barack Obama deixou ainda mais evidente a sua dificuldade de governar diante da falta de colaboração dos outros.

Embora sempre haverá que se respeitar as diferenças intrínsecas, o Obama-não-me-deixam começou a me lembrar do Lula-eu-não-sabia…

O presidente norte-americano, considerado o homem mais poderoso do planeta – e, no caso, o bastião audaz da esperança! – simplesmente não consegue parar de enfatizar os limites de seu próprio poder.

Não mostra nem fumaça daquela chama que ostentava no seu tempo de candidato, e nem mesmo o ímpeto já arrefecido que apresentava quando pleiteava a reeleição.

Após breve ressurreição do entusiasmo – como comediante! – que apresentou no jantar com os correspondentes da Casa Branca no sábado à noite, cercado de celebridades, foi forçado a sair da ribalta e do faz-de-conta, e descer na geral na manhã de terça.

 

Nos quase 50 minutos que durou o bombardeio de perguntas dos jornalistas, assistiu-se a um Obama de fisionomia envelhecida rápida e precocemente, exalando frustração por impotência, empacar na defensiva e desfilar um rosário de desculpas esfarrapadas, creditadas ao vilão contumaz: o algoz politico do GOP.

Sequestro no orçamento?

Os Republicanos, insensíveis, não perceberam nem a crise nos aeroportos causada pelo corte de funcionários…

Fechar Guantánamo, dispendiosa e ineficaz?

O Congresso, de maioria republicana, não deixa…

A reforma da saúde?

A implementação remanescente (estender o seguro-saúde a quem não tem e novos subsídios aos mais pobres) só depende da superação de obstáculos impostos por Republicanos de todas as administrações e legislaturas, aqui inclusas as estaduais, notadamente do Texas e da Flórida, redutos da oposição partidária.

Os sobrinhos do Tio Sam, segundo Obama, também têm muita responsabilidade nessa cogestão, e não pode vacilar na atenção aos acontecimentos, porque “longe dos olhos, longe do coração”…

É incontestável a complexidade e a dificuldade que qualquer presidente dos Estados Unidos tem de enfrentar no exercício do seu cargo, sobretudo no panorama internacional.

A questão da Síria, por exemplo, se trata de uma bagunça pagã, em que um país ancestral e orgulhoso de sua história está sendo destruído num conflito sangrento entre um ditador irascível e um amontoado eclético de rebeldes, que podem se revelar ainda menos tolerantes ou democráticos do que o déspota que combatem.

Mesmo no cenário doméstico, os atentados em Boston acabaram deixando claro que alguém usou os irmãos chechênios pra executar a operação.

Pode haver terroristas russos envolvidos, o que impõe a Obama que se aproxime – mais do que gostaria – de Vladimir Putin, além de obrigar as forças de segurança americanas e russas a superar décadas de desconfiança mútua acumulada durante a guerra fria.

Quanto ao Legislativo, assiste ao presidente alguma razão quando urge a força pública – pelo menos aquela que o elegeu – a fungar no cangote dos seus representantes, eis que tende a ser inócua – a às vezes negativamente reagente! – qualquer pressão horizontal que insinue norma de conduta e cooperação.

Barack Obama tem parecido estar mais com osaco cheio do encargo do que disposto a superar os estorvos políticos – naturais e saudáveis no ambiente multipartidário das democracias – inerentes ao seu posto.