HOMO URBANUS

Há 40 anos cientistas ingleses fizeram um estudo para mostrar que à
medida que cresce a aglomeração urbana, surgem problemas de escala que se
vão tornando insolúveis. Em toda a história da Terra, somente uma cidade – a
antiga Roma – se pôde vangloriar de ter tido mais de 1 milhão de habitantes
antes do século 19. Londres foi a primeira cidade moderna com uma população
superior a 1 milhão ou mais, somente no século 20. Segunda Universidade de
Nova York, há 200 anos, uma pessoa podia encontrar-se, em média, com 200 a
300 outras pessoas durante toda a sua vida. Hoje, um morador da cidade de
Nova York pode viver e trabalhar em meio a 220 mil pessoas num raio de dez
minutos de sua casa ou de seu escritório. Pela primeira vez na história, a
maioria dos seres humanos viverá em áreas urbanas, muitos em megalópoles
como São Paulo e seus subúrbios, com populações de 10 milhões ou mais,
segundo a ONU. Tornamo-nos o “Homo urbanus”. Enquanto a raça humana só podia
contar com o fluxo solar, dos ventos e das correntes e com a força humana e
animal para sobreviver, a população permaneceu relativamente baixa para
afetar a recomposição da natureza – a capacidade da biosfera de reciclar o
lixo e de recomposição de recursos naturais. Esse equilíbrio foi quebrado
com a exumação de grandes quantidades de energia estocadas, primeiro na
forma de carvão, depois de petróleo, gás natural e agora a biomassa do
álcool por exemplo. Utilizados nas máquinas a vapor e, mais tarde, em
motores de combustão interna, e transformados em eletricidade distribuída
por linhas de transmissão, os combustíveis fósseis permitiram à humanidade
criar novas tecnologias que aumentaram tremendamente a produção de
alimentos, de bens manufaturados e serviços. O crescimento sem precedentes
da produção levou ao galopante aumento populacional e à urbanização do
mundo. Ninguém está realmente certo sobre se esse momento crucial de mudança
das condições de vida humana deve ser comemorado, lamentado ou simplesmente
aceito. O escritor Elias Canetti observou certa vez que “cada um de nós é
rei num campo de cadáveres”. Se parássemos um momento e refletíssemos sobre
o número de criaturas e a quantidade de recursos naturais e materiais que
expropriamos e consumimos durante toda a nossa vida, ficaríamos chocados
diante de tanta carnificina e do esgotamento da natureza.