Humanizar é verde

Não era preciso copiar a solução ianque dos “Pocket Parks”, ou “parques de bolso”, para dar uma destinação nobre e saudável à imensidão de terrenos ociosos brasileiros. A paisagem urbana de todas as cidades brasileiras foi se tornando menos aprazível, diante da mesquinharia dos proprietários. Antigamente as casas tinham jardins e quintais. A densificação populacional elevou o custo do metro quadrado e hoje as moradias se espremem uma à outra, forçando uma intimidade quase promíscua.

O Plano Diretor de São Paulo prevê esses oásis urbanos instalados em áreas públicas ou particulares, cuja ociosidade resulta de não serem interessantes sob o ponto de vista imobiliário. Cantos abandonados servem de depósito de resíduos sólidos ou têm destinação ainda pior. Eles devem ser transformados em áreas verdes, com árvores e arbustos que, além de corrigir a fealdade, aumentem os ativos ecológicos de uma cidade cor de cinza.

Essa ideia já veiculei muitas vezes, sem qualquer repercussão prática. Além de destinar áreas ociosas para aumentar o índice ecológico das cidades, todos os terrenos pouco utilizados no interior e no entorno de equipamentos públicos precisam ser alvo de plantio. Há escolas que, em seu interior, sediam verdadeiro deserto. Por que não aproveitar espaços livres para melhorar a qualidade de vida do município?

Há vários aspectos interessantes nessa iniciativa. Além do aspecto ambiental, existe o interesse pedagógico. Crianças que cuidam de um jardim, que tentam criar um pequeno bosque em sua escola, aprendem a se interessar mais por biologia do que as maçantes aulas de professores às vezes desestimulados. Uma criança que aprende a colaborar com o milagre da germinação é candidato potencial a se tornar uma criatura mais humana, mais consciente e mais sensível. E é de pessoas assim que o Brasil necessita para não continuar nessa vereda do desalento e do descompromisso com o bem comum.

Multipliquemos as hortas escolares, os jardins residenciais, os pequenos tufos verdes nas áreas inservíveis. Façamos com que cada morador se orgulhe de ter uma árvore diante de sua casa. Não é solução para a recorrente falta de verde das cidades, mas será um bom começo.