INVENTÁRIO DAS MANIFESTAÇÕES

Ainda com o espírito das manifestações populares de 15 de março que
reuniram cerca de 2 milhões de pessoas em todo País, de longe o maior
movimento popular de nossa fase Republicana, recomenda-se um inventário. Da
perplexa presidente Dilma a patéticos ministros, governadores, nenhuma
esteve à altura de entender o que se passou nas ruas. Quando se imaginava
que o governo Dilma se achava forte e que o Bolsa Família lhe garantiria
longa vida, eis que, de um momento para o outro, tudo foi abaixo. Seis a
cada 10 brasileiros desaprovam seu governo. Sua maior rejeição está entre os
que nela votaram. Seu governo é quase uma unanimidade negativa entre ricos e
pobres, empresários e empregados, brancos e negros etc. As redes sociais
passaram a fazer as vezes de associações, religiões, sindicatos e partidos.
É por meio delas que internautas se conhecem, se expressam, constroem laços
de solidadriedade, transmitem mensagens, com a velocidade que antigas
gerações nunca tiveram. A descoberta das redes com veículos de mobilização
política é a extraordinária novidade, que partidos e políticos revelam
desconhecer, e não saber usar. Gustavo Le Bon, autor de Sociologia das
Multidões descreve o que dominou “multidão psicológica”, ou “alma coletiva”.
A seu ver, “o fato mais surpreendente apresentado por uma multidão
psicológica é o seguinte: quaisquer que sejam os indivíduos que a compõem,
por mais semelhantes ou dessemelhantes que possam ser o seu tipo de vida,
suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o mero fato de haverem se
transformado em multidão dota-os de uma espécie de alma coletiva”. Para Le
Bon, “o estado normal na multidão contrariada é o furor”.
Entender as origens e os desdobramento das manifestações não é difícil.
Basta observar o semblante dos participantes. Agrupados em grandes massas,
conduzidos por palavras de ordem, com líderes locais, hierarquia e
organização, extravasaram frustrações diante do procedimento leviano de
representantes que, depois de eleitos, renegam compromissos e abandonam quem
os elegeu. Cabe agora, sobretudo aos jovens fincar pé na vida política com o
propósito de injetar vida e dar alma a ela, e se tiverem êxito, embora
parcial, os sacrifícios terão sido válidos e o Brasil estará a caminho de se
transformar no País governado por representantes verdadeiramente do povo.