Jundiary

A história de uma cidade é feita, principalmente, pelo conjunto da ação de seus cidadãos. A localização geográfica, a economia, o clima, a disponibilidade hídrica e múltiplos fatores externos à localidade certamente influenciam o processo evolutivo de uma comunidade estabelecida em certo espaço territorial, mas entendo que nada é mais relevante e determinante que a atuação humana.

O impulso empreendedor daqueles dotados de visão de futuro, a labuta profissional diária dos prestadores de serviços, a obstinação dos que se movem pelo idealismo, o enraizamento dos que buscam um pedaço de chão para viver, a vocação colocada em prática, o destino idílico dos migrantes e imigrantes – as aspirações e as realizações dos seres humanos impactam, transformam, constroem uma cidade, necessariamente local essencial da convivência.

A presença da agricultura, o grande parque industrial, o comércio amplo e diversificado, a gama de serviços profissionais disponíveis, a infra-estrutura em crescente ampliação, tudo decorre da ação das pessoas.

Dentre os protagonistas dessa grande e ininterrupta construção coletiva, quero destacar a importância de quem se coloca como vetor da convergência, assumindo, pela livre escolha de seus pares, a difícil tarefa de a todos representar. Reporto-me a quem se candidata a uma função legislativa ou executiva – não é louvável a disposição de se submeter ao juízo de todos, desde que movido pela boa-fé e pelo altruísmo, buscando a aprovação de cada cidadão para poder desempenhar um mandato representativo, ou seja, trabalhar em nome de todos pelo bem comum?

Os casos nefastos que maculam a política e subvertem os princípios republicanos e os valores democráticos – infelizmente, tantos – não devem ser capazes de generalizar a condenação moral nem de afastar o interesse pelo tema; ao revés, contrastar tal situação com exemplos positivos e valorizar quem se move por boas causas pode ser uma maneira de não permitir que a política seja definitivamente capturada por interesses espúrios.

Assim motivado, homenageio Ary Fossen.

De sua ampla e conhecida trajetória pública, marcada por décadas de trabalho no Serviço Social da Indústria – Sesi e pela atuação como Secretário e Vice-Prefeito de Jundiaí, Subprefeito de São Paulo e Deputado Estadual, quero testemunhar seu trabalho como Prefeito de Jundiaí, já que fui Secretário da Casa Civil, por dois anos, durante a primeira metade de sua frutífera gestão.

Ao se candidatar à representação maior do cidadão jundiaiense, em 2004, Ary exercia mandato parlamentar na Assembléia Legislativa paulista e já havia obtido reconhecimento público singular, tendo sido Vice-Presidente da Assembleia: além do apreço antes conquistado junto ao Governador Mario Covas, o então Governador Geraldo Alckmin dizia publicamente ser ele o mais assíduo Deputado Estadual, conhecedor das políticas públicas e voz sempre presente na tribuna, a defender os programas governamentais da social-democracia brasileira e a buscar melhorias nas condições de vida dos que representava.

Ary fez uma campanha propositiva, reconhecendo os avanços que as gestões anteriores haviam propiciado e apresentando propostas consistentes e conseqüentes, conversando com todos de modo afável, atento, sempre disponível, a despertar empatia. Um traço distintivo é seu amplo conhecimento e prodigiosa memória em relação a reminiscências históricas e a árvores genealógicas da terra de Petronilha; é raro ele encontrar alguém da cidade e não conseguir relacioná-lo com um familiar e um dado momento interessante.

Eleito em primeiro turno, foi consultado pelo Governador, antes mesmo de tomar posse, se aceitaria dois investimentos estaduais que normalmente despertam grande polêmica: a construção de um centro de detenção provisória e de uma unidade para a recuperação de jovens infratores. Àquela altura, havia superlotação na cadeia pública do Anhangabaú, na região central da cidade, com proliferação de doenças e eventuais fugas e rebeliões, gerando aguda insegurança; quanto aos adolescentes que praticassem atos infracionais, tinham que ser transportados a São Paulo ou a Campinas para internação em grandes complexos, seccionando-os de suas famílias e sujeitando-os a realidades perniciosas. Como estava em questão a dignidade humana, não hesitou e aceitou de pronto as duas ofertas, o que permitiu a desativação da cadeia inadequada e a internação de jovens da cidade em unidade gerida por entidade social atuante no município.

Seu cotidiano no Paço Municipal começava cedo e terminava tarde, normalmente complementado por intensa agenda externa, já que procurava atender a todos os convites, de reuniões de associações de bairro a solenidades oficiais na Capital, mantendo-se sempre muito próximo das pessoas.

Respeitador das instituições, cultivou relação harmônica com o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública e a Advocacia, manteve permanente diálogo com os representantes do Poder Legislativo, estabeleceu novos convênios com os Poderes Executivos Estadual e Federal, presidiu o Consórcio Intermunicipal regional.

Sua gestão inovou em cidadania e segurança pública: os Conselhos de políticas públicas foram valorizados e passaram a contar com secretaria executiva e espaço próprio para reuniões, realizou-se o Cidadania para Todos no Cecap e foi elaborado de modo participativo, com o auxílio técnico do Núcleo de Estudos da Violência da USP, o primeiro Plano de Segurança Pública de Jundiaí, definindo prioridades e consagrando a ação integrada, com reuniões mensais no Gabinete do Prefeito, com a participação da Casa Civil, Guarda Municipal, Polícia Militar, Polícia Civil e Rodoviária.

Implantou-se o Olho Vivo, sistema de monitoramento com câmeras das principais vias municipais cuja central foi instalada na nova sede da Guarda Municipal, que passou a ter Ouvidoria e Corregedoria, aumentou-se o contingente dos agentes de segurança, realizou-se campanha pelo desarmamento e de incentivo ao disque-denúncia 181.

Incentivou o acesso gratuito à internet, tendo criado o programa Acessa Jundiaí, com computadores em todos os terminais rodoviários, trouxe o Acessa SP, instalado no Centro das Artes, multiplicou os cursos de capacitação e geração de renda.

Como falar em Fatec, Poupatempo, Creche Dia do Idoso, Vila Dignidade, Virada Cultural, CIC, Hospital Regional, recuperação do Complexo Fepasa, Fumas, novas marginais e novos trevos e viadutos da Anhanguera, sem associar cada uma dessas conquistas da cidade também ao trabalho incansável de Ary Fossen?

Em cada reunião realizada, sempre a atitude simpática e cativante. Em vias e eventos públicos, o carinho expresso em abraços, sorrisos, beijos e apertos de mão. Para quem mais precisa da ação pública, sabe que pode contar com ele. E quando não conseguia atender a vários convites para o mesmo horário, contava com sua companheira de dez lustros, Marialice, tão unida e partícipe, profundamente sintonizados, que por ela o ausente se fazia presente – e assim todos sentiam e se compraziam.

Talvez seja a grande vitória de quem se dedica à vida pública amalgamar-se à sua comunidade, como uma unidade comum, em que a parte não mais se diferencia do todo, autor fundido na obra, identificando-se reciprocamente – ele nela e ela, nele – de modo a explicitar uma ligação naturalmente solidificada, tão forte e verdadeira que se torna inquebrantável.

Assim é Jundiaí e Ary; aquela, cidade gentil e altruísta de que se orgulha; este, o filho amante da terra querida e dedicado à sua gente. Unidos pela ação humana, sob a proteção divina. Jundiary.