MAIS UM APAGÃO DE ENERGIA

Mais um período de apagões de energia vem sendo discutido pela imprensa e
por especialistas. A expansão do sistema de hidrelétricas tem sido feito
nas últimas décadas por usinas a fio d’água, isso é, sem reservatórios de
água que mantenham essas usinas em funcionamento, mesmo em períodos de
estiagem. Isso é culpa do atual governo e de sua falta de capacidade de se
engajar em diálogo maduro com os ambientalistas e os movimentos contrários à
construção de barragens para a formação de reservatórios. Hoje os
reservatórios das hidrelétricas estão abaixo do nível de 2001, onde ocorreu
o grande racionamento de energia. Teríamos novo racionamento se não tivessem
sido instaladas usinas termoelétricas, hoje operando diuturnamente. O
problema que a energia gerada por elas é muito mais cara e poluente. Em
2013, o governo federal, em uma atitude populista e negligente, ofereceu um
“desconto” nas contas de energia elétrica de cada brasileiro, deixando as
concessionárias com um deficit orçamentário de cerca de 20% e a resposta
imediata delas foi a paralisação dos investimentos em manutenção, ampliação
das usinas, vias de transmissão etc. Hoje, o risco de um apagão é muito
grande por conta do atual regime hídrico no território nacional.
Alternativas como usinas eólicas, termoelétricas queimando bagaço de cana
nunca foram estimuladas pelo governo, no fundo, por motivos ideológicos. Se
o governo federal deseja fazer programas sociais com eletricidade para
beneficiar os pobres, deve fazê-lo na venda, e não na sua geração. Foi isso
que o governo Franco Montouro fez em São Paulo em 1982, estendendo as redes
de eletricidade às favelas e cobrando preços reduzidos dos habitantes dessas
áreas, por meio de subsídios cruzados, em que os mais ricos pagavam tarifas
maiores do que os mais pobres. Para se ter um exemplo, é que menos de 20% do
potencial do bagaço de cana-de-açúcar – que é comparável à potência da Usina
de Itaipu – está sendo utilizado para “tocar” as termoelétricas, por causa
da falta de interesse do governo federal. Os problemas que enfrentamos na
área de energia elétrica não serão resolvidos com medidas intempestivas e
demagógicas e eleitoreiras. De qualquer forma o Tesouro Nacional – ou seja,
toda a população brasileira – vai pagar por ela, dessa vez com um provável
racionamento. Aonde teremos de chegar? Todos os dias discutimos o
crescimento ou recuo do produto interno bruto, o avanço ou decréscimo da
dívida pública, o progresso ou retrocesso deste ou daquele setor econômico,
mais ou menos empregos – mas sem discutir o que está na base física de tudo:
os recursos naturais (que são finitos). Será preciso enfrentarmos
racionamentos, penúrias? Não teremos competência para formular políticas
adequadas?