Não se presta a devida atenção a um fenômeno constatável a olho nu. O mar avança. Se alguém atentar, verá que ele engole coqueiros e casas e fica mais violento. Isso é resultado do aquecimento global. A Revista “Nature” de fevereiro último revela a elevação de 12 milímetros no nível médio do mar entre 2003 e 2010, porque derreteram 536 bilhões de toneladas em geleiras e áreas cobertas por gelo na Terra.
O volume de água despejado nos oceanos por ano corresponde ao dobro da quantidade de água do Amazonas. Isso vai afetar o fluxo e sentido de correntes marinhas e intensificar a frequência de tempestades e furacões. Mesmo assim, os homens continuam a derrubar florestas e a se utilizar, a cada dia mais, de combustíveis fósseis. A praia não é mais a mesma.
Cidades como Santos, Guarujá, Ubatuba, São Sebastião, tendem a perder áreas densamente ocupadas. Ilha Bela tende a perder suas praias e ficar uma elevação escarpada sobre águas revoltas. Por isso, além do entusiasmo do Pré-Sal, que alavancou o mercado imobiliário na região santista, os bem pensantes deveriam se preocupar também com essa ameaça.
A vã preocupação humana com a demarcação dos chamados “terrenos de marinha” parecerá uma triste ironia. Não adianta pretender invocar uma legislação anacrônica, de 1832, a proclamar que “são terrenos de marinha todos os que, banhados pelas águas do mar, vão até a distância de 15 braças para a parte da terra, contadas desde o ponto a que chega o preamar médio de 1831″.
É preciso acordar e ver que os paraísos já estão sumindo do mapa. Um exemplo é Mangue Seco, no município de Jandaíra, litoral norte da Bahia, célebre por sediar os personagens de “Tieta”, de Jorge Amado. As casas da praia já foram engolidas. Não é só lá, pequeno vilarejo.
O que acontecerá com o Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Florianópolis, além do nosso litoral paulista? O nível médio dos oceanos vai continuar a subir. Por insensatez humana. O impacto das marés vai mostrar ao bicho homem que ele não é onipotente. É um frágil caniço, cada vez mais frágil e, aparentemente, cada vez mais burro.