“Ah… Fica mais um pouco. Ainda é cedo. Vamos brincar mais, vá…”
A amizade da infância parece ter o poder de eternizar a criança que um dia fomos.
É aquela que nos faz despir a blindagem que a experiência nos dá e mostrar a nossa alma.
Arranca-nos a inibição e nos traz de volta a inocência irresponsável do menino disfarçado que ainda somos, fazendo-nos sentir de novo a segurança do bando…
Chamamo-nos por grunhidos e assobios, inventamos algum apelido – às vezes alguma corruptela do próprio nome – tentando criar códigos íntimos que só nós sabemos e que nos torna especiais.
Começamos repartindo brinquedos e tudo que conseguimos ter, desde então, não tem passado de novos brinquedos que só têm graça quando os conseguimos compartilhar entre nós.
As aventuras e até os romances ficaram maiores – e as desventuras muito mais suportáveis! – com a cumplicidade constante do amigo querido.
A fascinação entre dois parceiros só se completa e se torna amor quando o tempo consegue mitigar o egoísmo individual e adicionar a solidariedade, mas a nossa amizade já nasceu plena do amor na sua melhor forma.
Agora a morte, essa irresponsável que muitas vezes chega sorrateira e quando bem entende, sem o menor respeito à agenda do dia ou aos planos de amanhã – e muito menos aos anseios vãos do coração humano – o separa abruptamente de mim.
Meu único consolo é saber que os amigos de verdade como você nos dão tanta vida que, mesmo quando nos matam com a sua morte, ainda nos permitem – num último gesto de generosidade! – seguir vivendo graças às recordações perpetuadas no coração.
Obrigado, meu querido amigo, por tudo que conseguimos brincar juntos nesta vida!
Arrependo-me do fato de não termos sido capazes de compartilhar muito mais momentos na nossa fugaz e complicada existência, mas aqueles que vivemos juntos foram as brincadeiras mais felizes que eu tive…
Adeus Estacião!