“Menino, peço-te a graça/ de não fazer mais poema/ de Natal./ Uns dois ou três, inda passa…/ Industrializar o tema,/ eis o mal…”. Com esses versos, Carlos Drummond de Andrade lamentava a trivialização de uma data que mudou a História. O nascimento de Jesus Cristo, que os cristãos consideram o Messias. Deus feito homem, anunciado pelos profetas para redimir a criatura pecadora e restaurar para ela a viabilidade da eterna fruição da presença do Criador.
O pior é que não se industrializou o tema da poesia. Industrializou-se a própria festa. O Natal virou celebração do consumo. Troca forçada de cumprimentos, expectativa de presentes, desconforto dos pais que não podem atender aos filhos tiranos e cada vez mais insaciáveis.
Quem se recorda de que Natal é nascimento de uma criança em situação de risco? Ou não é situação de risco nascer numa estrebaria, em pleno inverno, contando com o aquecimento natural do arfar de uma vaca e um jumento?
Sem dúvida, Maria e José seriam levados ao Conselho Tutelar para prestar contas das condições precárias oferecidas ao infante. Eles se enquadrariam hoje na categoria dos sem teto. E dos sem responsabilidade! Como viajar até Belém, com a mulher prestes a dar à luz o filho, montada num burrinho e sem reserva de hotel? Sem dúvida, também não teria feito o pré-natal. E nas provisões de viagem, não estariam as fraldas descartáveis da marca escolhida pelas exigentes parturientes da República Federativa do Brasil.
Ressuscitemos o Natal. Festa da esperança. Da singeleza, da humildade, da modéstia. Festa que poderia ser mais ascética e frugal, sem perder – ao contrário – ganharia muito! – seu simbolismo e intensidade.
Uma estrela anunciou a toda a Humanidade que o Messias nascera em Belém, na madrugada de 25 de dezembro. Que essa estrela ressurja para o desconsolado brasileiro, sem definição quanto ao seu futuro, descrente do sistema e desencantado com tudo. Mesmo assim, Feliz Natal a todos os homens de boa vontade!
Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 24/12/2015