Onde está o luar do sertão?

Ninguém mais canta “O Luar do Sertão” nos saraus. Na verdade, não há mais saraus. A juventude sequer sabe quem foi o compositor dessa música. Foi o maranhense Catulo da Paixão Cearense, nascido em 8.10.1863 e falecido em 10.5.1946, na rua Francisca Meyer, 78, casa 2, Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro.

Era um boêmio no Rio, para onde foi aos 17 anos e conseguiu tornar-se conhecido e cantar em rodas de choro, mas também no Palácio do Catete, para os presidentes Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca. A mulher deste, Nair de Teffé, era grande incentivadora de todas as artes.

Muito vaidoso, Catulo contava a todos que, após recitar o seu “Hino Às Aves” para Rui Barbosa, o baiano caiu em pranto. Só então é que Catulo se rendeu à unanimidade nacional e considerou a “Águia de Haia” um verdadeiro gênio. Por sua gabolice, era alvo de brincadeira dos amigos. Quando ensinava violão aos filhos do senador Gaspar da Silveira Martins, fizeram com que uma jovem semidespida entrasse em seus aposentos.

Catulo a atacou e a moça ensaiou um escândalo, que fez intervir a polícia e forjou-se um casamento falso para “reparar o dano”. Em lugar de se enraivecer, Catulo ficou contente ao saber que o casamento não valera.

Ele foi glorificado em vida e suscitou uma homenagem com a inauguração do próprio busto, numa campanha chamada “O tostão do povo”. Ele cobrava a todos a subscrição da lista de adesões e se irritava com quem se recusasse a colaborar. A festa de inauguração no Palácio Monroe foi em 1940 e a multidão compareceu para prestigiá-lo.

Daí por diante, ele rapava a cabeça para se tornar parecido com o busto. Achava que, sem cabelos, tornava-se mais semelhante com a escultura. Quando da festa de descerramento de sua cabeça, disse que o povo o consagrara em vida e que até o Presidente da República dera dinheiro de seu bolso para custear a obra.

Esse homem peculiar, verdadeiro artista que tanto agradou ao povo, foi o autor do “Luar do Sertão”, cujos primeiros versos os mais velhos ainda se recordam: “Não há, ó gente, ó não, luar como este do sertão…”. Hoje, a poluição não deixa ver o luar e a destruição da mata fez desaparecer o sertão.