Os bons ladrões

A criminalidade no Brasil cresce na razão direta do desenvolvimento propalado no discurso dos que governam e na inversa do enriquecimento que se vê nas ruas…

O brasileiro ainda é um povo miserável que perambula, sem rumo e sem noção, num país cada vez mais rico.

É a contradição insolúvel que se vê, desde os tempos de Alegria, Alegria, do Caetano, nos números e índices na seção de economia dos noticiários – de fora ou de dentro – e nos números e índices na seção de desgraças dessas mesmas fontes de informação.

O Brasil, efetivamente, possui riquezas naturais que já faziam Mao Tsé-Tung arregalar os olhos e sheik árabe oferecer camelo e cabra pra ter um pouco…

Onde não há jazida de algum mineral nobre, há terra fértil que, árdua e habilmente trabalhada e domada pela persistência do inconformado herói imigrante, produz mais e melhor que muitos campos lá de fora.

Nosso país pode, literalmente alimentar o mundo, e seu povo melhorar de vida com isso, mas tal comida é devorada – com desdém às sobras – pela má administração e pela corrupção generalizada, que se impõe, sem nenhum pudor e com desprezível – de tão rara! – punibilidade, à pobre plebe ignara.

Os escolhidos do povo – pobre povo! – parecem muito mais preocupados em se locupletar e produzir números que mais sirvam a tal locupletamento que àqueles que os escolhem nas urnas, ainda tão influenciáveis como seus ancestrais tupiniquins.

O produto nacional é caro? Tudo bem, 5% dos brasileiros vão comprar no exterior com cartão de crédito, gastam bilhões de dólares, e devolvem 6,38% só de IOF aos bolsos, digo, cofres públicos. Parece compensar mais do que estimular – e baratear! – o produto interno…

Já o automóvel, que seja fabricado em casa, a precinho popular.

Afinal, rende em média 30% limpinhos em impostos, contribui também com o IPVA, com os pedágios, as multas muitas vezes traiçoeiras e culturalmente inevitáveis pelo infrator natural, além do combustível consumido, item este também gulosamente tributado.

Só deve perder da bebida, do cigarro e do remédio, que fazem muito mal à saúde…

Ainda assim, e apesar disso, se houver malversações que alguém mais atento perceba – e como as há! – os mais questionados têm classificado tal crime – hediondo! – de simples erro de companheiro, o que revela a falibilidade humana da companheirada, pré-condição pro perdão do eleitor.

E, aqui, nem carece se arrepender…

O recente quiprocó na região nordestina sobre o bolsa-família ter sido extinto ou, ao contrário, dar bônus extra pelo dia das mães, onde centenas de despossuídos se apinharam entre as cercas de proteção (do banco) e os automóveis correntes, reflete bem o reality show da nossa gente que, depois da pinga e antes do cigarro, só queria comer alguma coisa.

Os felizardos beneficiários de tal programa foram tirados da fossa em 2009 quando lhes foi dada a ajuda federal de setenta reais.

Agora, com a falta de correção inflacionária, sete reais os colocam de novo na mais negra miséria, o que aumenta o desespero.

Mas quem consegue perceber, entorpecidos os sensos pela subnutrição e pela falta de educação?

Reagir, então, só depois de um bom almoço pra recuperar as forças, eis que o soro na veia ainda depende da contratação de médicos de fora – e da reza pra que ninguém se perca na tradução!