Oscar e a senhora Rosa

Miriam Mehler é uma atriz talentosa. Na peça “Oscar e a Senhora Rosa”, que assisti no Sesc-Pinheiros, ela celebra 55 anos de carreira. Estreou com “Eles Não Usam Black-Tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, no Teatro de Arena. Nesta peça, a primeira montagem brasileira da obra de Eric-Emmanuel Schmitt, o tema é infância e espiritualidade.

Ela se desdobra em diversos personagens: interpreta desde o pequeno Oscar, criança que está com câncer hospitalizada e condenada, até a voluntária Rosa. Além disso, desempenha papéis dos pais de Oscar, médicos, enfermeiros, colegas e hospital e o ingênuo primeiro amor do infante enfermo.

O autor da peça, Eric-Emmanuel Schmitt, é doutor em filosofia, considerado um dos maiores especialistas em Denis Diderot. Em 1991 teve sua primeira peça, “La Nuit de Valognes”, encenada pela Royal Shakespeare Company. No Brasil já foram encenadas suas peças “Variações Enigmáticas”, “Pequenos Crimes Conjugais” e “O Libertino”.

Emocionante acompanhar o dia a dia de uma criança com essa doença cujo nome é suficiente para aterrorizar qualquer pessoa. Ainda somos reféns dessa ideia de que o canceroso vai morrer. Esquecemo-nos, com frequência, que morrer, todos nós estamos condenados a experimentar, mais dia, menos dia. Mas aqui a situação é muito mais trágica.

Espera-se que uma criança cresça, se desenvolva, amadureça. Tenha uma vida longa e feliz e enterre seus pais. Essa é a ordem natural das coisas. Morte de criança é muito triste. Não há palavras para confortar os pais. Os pais de Oscar, na peça, preferem fugir dele. Não suportam permanecer ao lado do filho que não tem salvação. Evitam as visitas. Devem estar sofrendo, é lógico. Mas o filho sofre muito mais com esse abandono.

A voluntária Rosa é quem assume o papel de confidente, de animadora, de amiga de todas as horas de uma criança que não quer morrer, que sabe que vai morrer e que se entrega à única pessoa suficientemente corajosa para estar ao seu lado no momento em que a “indesejável das gentes” chega para conduzi-lo ao etéreo. Linda peça, bela mensagem, estupenda interpretação de Miriam Mehler e direção segura de Tadeu Aguiar.