Em 2013, mais de 1,8 milhões de brasileiros visitaram os Estados Unidos, em cujos parques e outlets deixaram – mesmerizados pelas atrações e pelas ofertas – 8 bilhões de dólares. A parte aérea, parcelada em 10 imperceptíveis vezes sem juros, não está incluída.
Foram à América do Tio Sam não só em busca de todos os bens que conseguissem carregar sem declarar, mas também de melhores histórias – editadas pela memória dos viajantes – pra contar àqueles que não foram.
Já o ano de 2014 prenuncia ainda mais em decepções, aventuras e exportação de dinheiro, a julgar pela minha recente experiência de convivência exposta e prolongada com outros brasileiros na área dos portões de embarque internacional no aeroporto de Guarulhos.
O voo 8110, previsto para ser alçado à uma e vinte da madrugada quente da capital dafumaça, já dava sinais de atraso quando os autofalantes anunciaram aos clientes que a decolagem havia sido alterada para as três e meia, “podendo ser antecipada ou prorrogada”…
Acabou saindo às seis e vinte, o que permitiu maior interação entre todos aqueles que esperavam, agora com mais alguma coisa em comum: o mesmo exercício insalubre de passar – muito mal acomodado – a noite em claro.
Enquanto alguns de menor pavio reclamavam e ameaçavam apenas pelo bem do desabafo, as mulheres ajeitavam como podiam as suas crianças, passando as pequenas pernas por baixo dos braços das poltronas desconfortáveis, do tempo em que a LATAM era apenas Transportes Aéreos Marília…
O pessoal bem-humorado do turno da noite na lanchonete do pão de queijo mal dava conta dos pedidos, e o que mais se comentava entre os fregueses que se acotovelavam no balcão era o grande fiasco que a Copa do Mundo promete, justificando o ceticismo invejoso da mídia internacional.
Muitos juraram que não assistirão aos jogos nos estádios, mas nas TVs High Definition de sessenta polegadas e de quinhentos dólares que trarão na volta…
Falou-se também bastante de novos protestos em formação, a começar pela saída dos paulistanos na celebração dos seus quatrocentos e sessenta anos de nascimento.
Segundo os que esperavam na ala do voo incerto, os brasileiros deverão de novo reclamar em massa pelo que merecem.
O problema é que nas ruas as alas se abrem muitas vezes à força.
Quando todos os Brasis se juntam e colidem, tem prevalecido aquele que nada aprendeu na escola pela falta do ensino, pela ausência do estímulo, pela impossibilidade da escolha, pela dificuldade do acesso, pela distância de casa, pelos percalços do caminho…
Como sói acontecer no final de todas as férias na terra natal, é triste se separar da nossa gente e daqueles que nos são caros, mas é sempre bom voltar pra casa, apesar do risco de levar peteleco de algum Neandertal do Serviço de Imigração americano.
Ainda bem que, desta vez, o oficial, compadecido pela volta atrasada, só disse “welcome home”!