Os do contra

A notícia de que Raul Castro ficou tão impressionado com o Papa que admitiu voltar a frequentar a Igreja deveria ser bem recebida. Afinal, o carisma de Francisco encontrou um flanco no convicto comunista e o comoveu. Alvíssaras: nem tudo está perdido!

Mas o efeito pode ser contrário, sob a ótica dos “do contra”. O fundamentalismo encontrará mais argumentos para sustentar que o jesuíta Bergoglio não é o Pontífice que eles gostariam. O resultado é previsível: se ele agrada o comunista, não pode agradar o fanático.

Os irados formam o “exército do contra”. São contra muita coisa. Condenam a adoção de crianças por parelhas homoafetivas, que não reconhecem como nova formatação antes oculta, hoje um pouco mais transparente. Mas indague-se: quantas crianças eles mesmos adotaram, para que não sejam entregues à nefasta influência de quem se dispôs a tratá-las como filhas?

Seria preferível deixar a criança abandonada, entregue às sarjetas ou, pior ainda, às facções que controlam o tráfico de drogas do que sob um teto, com alimentação, estudo e carinho?

O que estão fazendo para mostrar que a família-tipo continua a ser a única ideal? Vivem a plenitude do amor, entre si e em relação ao próximo? Repartem seus bens com os excluídos? Qual a sua postura diante do crescimento dos moradores de rua?

São os que abominam não apenas o crime, mas o criminoso. A pastoral carcerária é para eles um acinte. Prisão é para bandido e está certa a política de encarceramento, pouco importa o dispêndio de minguados recursos financeiros e a falência da recuperação do preso. Preferem ficar longe do egresso.

O que farão quando seus filhos, seus sobrinhos, genros ou netos forem presos? Pleitearão tratamento especial?

O mundo mudou e muita gente afeiçoada ao passado não se apercebeu disso. Se mudou para pior, o que fazer para mostrar que os valores longevos devem prevalecer? Perfilhar a teoria do “contra” e apenas vociferar contra o que se vê e considera maléfico, sem entrar em campo para amparar o semelhante, é fácil. Ou, na verdade, é nada!

Desconfio de que o próprio Cristo, se hoje retornasse despido de pompas e circunstâncias, seria repudiado pelas hostes dos que só criticam, só conhecem o verbo condenar e têm extrema dificuldade em conjugar a tolerância e o perdão.