Os italianos estão grilados!

Os eleitores italianos, numa mistura confusa de lealdade e rebeldia, protagonizaram o que seria, no tempo das vacas gordas e mentalmente saudáveis, considerado um paradoxo: ressucitaram a turma do Mambo Italiano, representada por Silvio Berlusconi, a versão bem-sucedida do Maluf, ao mesmo tempo em que consagraram Beppe Grillo, uma espécie de Tiririca genovês…

As eleições gerais para o Parlamento da Itália, havidas nesta semana, resultaram num novo e inoportuno tsunami financeiro, cujos efeitos o planeta inteiro – que ainda alterna melhoras e recaídas nos seus males agora crônicos –  já começou a sentir, a se observar na reação das ações nas bolsas e na generosidade ainda maior dos títulos públicos dos países banhados pelo Mediterrâneo, eis que se melhorar, estraga.

Desafiado pela pior recessão desde 1930 e pela outrora inimaginável implosão do euro, o povo italiano decidiu ignorar a realidade:Nas eleições, um quarto dele – um recorde desde a segunda guerra! – nem compareceu às urnas;

Daqueles que o fizeram, quase 30% apoiaram Berlusconi (centro-direita), cuja performance ridi pagliaccio como primeiro-ministro ajudou a agravar bastante o problema econômico;

25% votaram para o Movimento Cinco Estrelas liderado pelo comediante Grillo, apartidário autoproclamado;

E Mario Monti, o atual governante de centro-esquerda, o tecnocrata que nos últimos 15 meses ajudou a Itália a recuperar a credibilidade, conseguiu míseros 10% de apoio.

Embora ainda seja a terceira maior economia da zona do euro, a Itália só vai ter governo – e ter chance de voltar à superfície sem afogar junto os seus colegas – se Mario Monti conseguir se coalizar, costurando alianças improváveis, com a direita de Silvio ou com o anarquista-convertido-a-equilibrista do Beppe, nem que precise apelar pra Lula Consultorias, de propriedade de Marisa, a italiana, ou aprender a virar a casaca com o PMDB tupiniquim…

Como consequência imediata do resultado do sufrágio, os investidores – por natureza, mais impulsivos do que células nervosas – já concluíram que Lo Stivale se rebelou contra a austeridade da União Europeia inspirada no modelito alemão e quer semear a discórdia entre as pessoas do mundo livre.

Coerentes com o próprio instinto, tais especuladores criaram pânico no mercado cada vez mais assombradiço.

Os colegas primeiros-ministros ou presidentes – conforme de onde se olhe – solidários, tentando evitar o buraco negro, se mobilizam nos primeiros socorros e nos tapa-buracos, mas a história poderá mostrar que essas eleições à italiana foram aquelas que revelaram, de uma vez por todas, que os europeus do século 21 não tinham nenhum interesse em reformas.

Apenas nove meses depois dos franceses repudiarem mudanças, os italianos foram ainda mais longe: dois terços deles rejeitaram não só os planos de austeridade impostos pelos alemães, como também toda a agenda do seu próprio governo reformista desenhada pra reverter o quadro de crescimento pífio.

O risco que se tem projetado, diante da rejeição ao tratamento, é a condução à paralisia econômica e ao declínio politico que o Japão, por exemplo, já enfrenta há vinte anos.

Mas quando a posologia recomendada não convence com melhora imediata, percebida até por aquele hipocondríaco com morbidez terminal, nada como delirar com os bons velhos tempos, quando se era feliz e se nem sabia…

Ridi pagliacci!