Os pais do drogado

Acabo de ler o livro “Você meu filho”, de Jean Bothorel. O autor é comentarista político do “Le Figaro”, na França. Descobriu que seu filho de dezessete anos era drogado. Escreveu o livro numa espécie de monólogo/diálogo com o jovem. Os pais não cessam de se autoindagar: “Onde foi que eu errei?”. Era quase impossível reencetar o encontro com o filho que crescera confortado por todos os mimos materiais, mas que era um desconhecido para seu pai.

Os pais perguntam com quem o filho está saindo? O que ele vê na internet? Quais suas angústias, suas dúvidas, seus sonhos e ambições? O pai já fora fruto de uma rebeldia alimentada pelos Jack Kerouac (autor de “On the road” e “Dharma bums”), Allen Ginsberg, William Burroughs (“Naked lunch”), sem falar nos conterrâneos Sartre, Camus, Bataille, Gide, Malraux, Céline, Mauriac e Bernanos. Lembrava-se do próprio pai – o avô do viciado – que representara “a moral de outrora.

Personalizava um modo de ser, um catálogo de valores bem estabelecidos: o respeito à escola, o amor ao trabalho, a aversão à preguiça e aos preguiçosos, a lealdade e sobretudo o sentido da honra”. Quando se lembrou de “honra”, teve um sobressalto. A palavra foi esquecida e o conceito também. Honra, grandeza, probidade são gloriosas teorias desmoralizadas pelos poderosos que constantemente as empregam, sem nelas acreditar. Ele questiona:

“Por que desapareceram de nosso vocabulário essas palavras de que nenhuma educação, nenhuma instituição, nenhuma sociedade pode prescindir? A honra é uma ética. É uma valorização da pessoa. Pode até parecer ingenuidade, bobagem, mas a verdade é que o respeito-próprio é a base do respeito pelos outros. Por que jogamos fora ideias tão simples e tão importantes?”.

O jornalista fez o “mea culpa” e reconheceu ter feito o jogo do avestruz. Fazer de conta que nada acontece. Levar sua vida e propiciar ao filho todos os prazeres, não falar “não”, nada proibir, tudo permitir. Deu razão a François Mauriac, a lamentar: “É verdade que vivemos num mundo em que tudo é feito para corromper a infância, a adolescência e a juventude. Pagaremos caro, muito caro por isso”. Alguém consegue provar que isso não aconteceu e continua a acontecer?

1 comentário

  1. Solange Aparecida Ferreira

    Dr. Renato Nalini

    A essência do livro “ressalta” da importância quanto à preparação dos pais na educação dos filhos, em outras palavras, o amar é tolerar quando necessário o dizer “não”, o que se diga ser mais difícil, pois o “sim” não causa aborrecimentos naquele momento. Amar, é impor limites, conversar qual o motivo do “não”, proporcionar exemplos por meio das próprias condutas, seja, do respeito ao próximo, do labor que oferece as condições para manter as necessidades para existência. Uma criança que obtém as respostas dos “porquês” mínima será a probabilidade de buscas “ilusórias” por não “ter” e “como” o que deseja a sentir-se incompreendido, pois saberá há tempo das regras que se faz necessário na convivência numa sociedade. Eu não tenho filhos, mas, tenho um belo sobrinho, e respeitando a parte que me cabe como tia, procuro passar para ele que na vida para alcançarmos o que desejamos se faz necessária a paciência, o trabalho, numa linguagem adequada à idade dele. E a responder a questão colocada pelo senhor realmente não existe como provar isso não acontece, pois está as nossas vistas, e muito menos que não continuára, a menos que resgatemos grandes valores hoje vistos como “insignificantes” e “ingênuos”. Obrigada por compartilhar o rico texto.

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