Periferia não gosta de verde

Ouvi de duas autoridades que, presumivelmente, conhecem bem o assunto, que não adianta querer plantar árvores em ruas da periferia cor de cinza da metrópole. Isso porque a periferia detesta árvores.

O primeiro, ambientalista, disse que as árvores comprometem a segurança. Representam esconderijo para a malandragem que, protegida pelos troncos, aguarda incautos para roubar.

O outro, detentor de função pública, disse que o pobre não gosta de árvore porque ela arrebenta o passeio e depois ele se vê obrigado a consertar. Além disso, a árvore deixa cair folhas, faz com que a dona de casa tenha de varrer o passeio. “Faz sujeira! Melhor cimentar tudo!”.

Desanimador pensar que isso possa ser verdade. Será que a periferia prefere continuar sem árvores, sem verde, sem pássaros, nas “ilhas de calor” que favorecem a péssima qualidade de vida, exacerbam sentimentos negativos como depressão, aumentam a violência pois fazem as pessoas perderem sensibilidade?

Um projeto interessante de fazer com que as escolas mantivessem hortas e pomares, cuidassem dos terrenos baldios para fazer nichos verdes, estimulassem os inúmeros “Jardins” que não têm árvores a serem, efetivamente, “Jardins”, fica paralisado quando quem entende aposta que o pobre não quer árvores em seus bairros.

A única esperança é motivar as crianças e fazer com que elas compreendam que a falta de verde é também um dos grandes problemas das cidades.

Hoje, quase todo brasileiro mora na cidade. Mas mora mal. Se houvesse mais árvores, haveria maior escoamento da água, menos enchentes, menos insolação, menos “ilhas de calor”, que os professores já devem ter mencionado aos alunos como um dos nefastos fenômenos atuais.

É triste acreditar que os moradores das regiões mais inóspitas sejam os primeiros a abominar qualquer tentativa dos poderes públicos para tornar mais ameno o bairro, mais colorido, mais humano, mais vivo e mais feliz. Não consigo acreditar que isso seja verdade. Mas se for, o Brasil está muito mais pobre do que se imagina.