Observando este pedaço do Atlântico na costa leste da Flórida que os espanhóis resolveram chamar de Fernandina, em 1811, pra homenagear seu rei Ferdinand VII, percebo que o sol, escaldante, parece ser aquele mesmo que ardia em Itapuã, que veio bronzear os brasileiros que pra cá voaram procurando um bronzeado mais barato…
Sigo lendo as notícias que vêm da pátria subindo pelo mesmo mar, sobre prédios desaparecendo nas dolinas da Disneyworld – posseira do frágil calcário floridense – ao mesmo tempo em que Dilma manda seu segurança tomar conta dos preparativos para a enroscada copa mundial de futebol e Lula tenta “fazer gato” na ligação direta entre seus postes candangos, paulistas e paulistanos, porque em Pernambuco, Garanhuns ou em Caetés, ficou muito pouca gente depois que o presidente saiu…
Acalmado o tsunami das ruas, a presidente, que perdeu 30 pontos na popularidade por não ter feito nada, agora recupera alguns porque deixou o tempo transformar aquele zero absoluto em alguma coisa incerta e não-sabida, usando somente o mecanismo da memória do eleitor tupiniquim, não muito diferente do de qualquer outra tribo.
A alta cúpula da gatunagem, meramente irresignada – que havia levado um direto no fígado pelo Supremo (leia-se “Barbosa”) – agora parece ter ganho uma oitava vida na suprema corte, que rediscute decisões anteriores porque tal direto foi abaixo da linha da cintura e chicanar é preciso…
Entre tantas outras notícias que compõem a lista de mais do mesmo, gostaria de me alongar naquela sobre o lucro líquido do Banco do Brasil no segundo trimestre: o recorde histórico de R$7,472 bilhões!
Em algo que sempre me pareceu uma competição vale-tudo entre bancos pra conquistar a liderança financeira – enfoque, a meu ver, disarmônico para um banco do povo – o maior banco brasileiro e baluarte da política de redução de juros do governo Dilma mais que dobrou o resultado do ano anterior e quase o triplicou em relação ao primeiro trimestre, deixando para trás o segundo colocado, o banco Itaú, em R$272 milhões.
Simultaneamente, a taxa de inadimplência do nosso BB foi a menor dos últimos 11 anos.
Nada contra a boa administração e a otimização do lucro – garantia de vida longa de qualquer empresa.
Tampouco contesto a estratégia do presidente da instituição, Aldemir Bendine, de expansão contracíclica – aproveitar o recuo do mercado pra ganhar participação, ou seja, tomar dos outros, eis que o bolo (ou a pizza) é mais ou menos o mesmo – ou de maior austeridade na avaliação do risco.
Mas como só cautela sobre a capacidade de pagamento do cliente – priorizando empresas, especialmente do agronegócio, maior força da economia brasileira, em detrimento das pessoas físicas – e esperteza maior que a do concorrente não levariam, nessas circunstâncias, a resultado tão impressionante, resolvi comparar, só por brincadeira, o que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal (os dois bancos federais no mesmo nicho do mercado) informam, no extrato do cliente pessoa física, quanto ao custo do cheque especial:
Na CEF, o chamado CET (Custo Efetivo Total) é de 38% ao ano;
No BB, o tal CET é de 108% ao ano.
Aparentemente o Banco do Brasil têm selecionado com o mesmo rigor as capacidades do cliente de pagar e a de discernir, escolhendo as inversamente proporcionais…
Dizendo de outro modo, o cidadão ordinário e sem segurança, é roubado à vista, violentamente, pelo assaltante; com poucos fiadores na vizinhança, é tungado a prazo, escancaradamente, pelo maior banco do Brasil, mas – ingênuo ou preguiçoso pra avaliar seus algozes – paga os seus pecados na razão inversa das promessas de quem elege!
Amém!