A persistência anacrônica dos velhos contextos das cidades paralisa-lhes a extensão. A vida industrial e comercial será sufocada nas cidades retardatárias. Essa era a advertência de Le Corbusier, ao propor – há 90 anos – um projeto de cidade contemporânea. Ele considerava a cidade um instrumento de trabalho. Mas, já àquela época, elas não cumpriam normalmente essa função. Eram ineficazes, desgastavam o corpo e contrariavam o espírito.
A desordem que se multiplicava na cidade desordenada era ultrajante: sua decadência feria o amor próprio e melindrava a dignidade. Em 1922, Le Corbusier concluía que as cidades já não eram dignas da época, nem dignas da humanidade. Sua visão sobre a cidade era baseada na ordem. “Na natureza caótica, o homem, para sua segurança, cria para si uma ambiência, uma zona de proteção que esteja de acordo com o que ele é e com o que ele pensa; ele precisa de pontos de referência, de praças fortificadas em cujo interior ele se sinta em segurança; precisa de coisas de seu determinismo”.
Sem a ordem, que é indispensável, os atos humanos não teriam coesão nem sequência. Quanto mais perfeita é a ordem, mais o homem fica à vontade, em segurança. “A obra humana é uma colocação em ordem”. Noventa anos depois, as ideias de Le Corbusier não encontram eco na conurbação disforme, sem ordem e sem qualquer planejamento. As municipalidades se curvam aos interesses econômicos. Deixam degradar a paisagem e a estética reflete um fracasso.
Ao planejar a cidade contemporânea, Le Corbusier a previa plena de árvores. Invocava um aforismo turco: “onde construímos, plantamos árvores”. E lamentava: “Em nosso país, nós as arrancamos”. O que diria ele de um Brasil que retrocedeu aceleradamente desde 1972 e que em 2012 revogou o seu Código Florestal? Há 90 anos, quando sequer se ouvira falar em “ecologia”, Le Corbusier propunha: “É urgente plantar árvores”.
O desespero das grandes cidades só se atenuaria com a multiplicação das áreas verdes: “O fenômeno gigantesco da grande cidade se desenvolverá em alegres áreas verdes”. E quanto aos automóveis: ele respondia: “Tanto melhor, eles não poderão mais transitar”… Deu-se o contrário: a cidade é dos automóveis e as árvores condenadas a morrer.