Poder refém da demagogia

Vejo em três níveis do governo brasileiro um fenômeno trágico. Os Chefes de Executivo nas três esferas são obrigados a aceitar imposições partidárias para conseguir a governabilidade. Com isso, pouco resta para a escolha pessoal do primeiro time. O partido coligado indica aquele que deve ser Ministro ou Secretário. Quem foi eleito se vê atado a pessoas com as quais não conviveria, em quem não confia, mas que estão ali, exercendo importante parcela do poder e respondendo por políticas públicas as mais relevantes.

Será que tem de ser assim? Algum eleito teria coragem de se abrir com a população que o elegeu e colocar as cartas na mesa? Dizer que gostaria de ter um Ministério ou um Secretariado melhor, de sua confiança, irmanado nos ideais que o levaram a fazer campanha e se eleger, mas que é refém de um sistema superado?

Talvez ele recebesse o respaldo do povo para fazer, de fato, o governo que prometeu. Quantas pessoas honestas se dizem sitiadas por outros nem tanto, mas por circunstâncias das quais não podem se desvincular? Quem teria desapego do cargo para abrir o jogo, contar o que se passa na realidade e pedir o apoio popular para continuar a exercê-lo de acordo com os seus princípios?

Essas alianças ad-hoc, costuradas apenas pelo interesse personalíssimo e econômico, não condizem com as reais necessidades de um país com tantas iniquidades e injustiças. O Brasil poderia ser bem melhor se esse universo complexo e ambíguo da política eleitoral fosse aperfeiçoado.

A continuar nos velhos esquemas, aos poucos o homem honesto se desinteressará de fazê-la, o que não será lamentado pelos profissionais que neles enxergam um estorvo a ser realmente neutralizado.

Não há necessidade de reforma constitucional, nem de mais leis – elas existem em abundância e para todos os gostos – aliás, o excesso de direito parece contribuir para dificultar a realização do justo humano possível. Basta vontade política, ética de verdade ou, em linguagem que todos entendem, apenas vergonha na cara.
Será pedir muito para um Brasil que tem o povo mais criativo, mais paciente, mais generoso e, infelizmente, um dos mais sofridos de todo o planeta?