POLÍTICAS SOCIOAMBIENTAIS

Há muito se discute o desenvolvimento sustentável, assim como seus custos.
Vejamos algumas questões preliminares. O salário médio na indústria chinesa
está em US$ 100; nas pequenas e médias empresas, de US$ 60 a US$ 80 –
padrões que correspondem a um décimo de seus similares nos países
industrializados. Quanto a mão-de-obra, os reflexos negativos são cada vez
mais evidentes. As indústrias ali já absorvem 300 milhões de pessoas, que
trabalham dez horas por dia, seis dias por semana. Comparações nessa área
são complicadas, porque os trabalhadores chineses ainda tem benefícios da
era socialista como casa, transporte, educação, saúde e outros. Mas os
padrões monetários influenciam os preços no mundo todo. E ajudam a segurar a
remuneração dos trabalhadores em países concorrentes e a inflação nos países
industrializados. Só nos Estados Unidos, com essa transferência de
atividades e a importação de produtos chineses em geral, deixou de emitir
1,7 bilhão de toneladas anuais de dióxido de carbono pela não
industrialização nesse país. Mas essa transferência pode significar também
desemprego em blocos econômicos e países com padrões salariais mais elevados
como Estados Unidos da América do Norte, União Européia e até no Brasil.
Todas essas questões nos levam entender que as relações da China com a
América Latina podem provocar uma tragédia socioambiental. É uma postura que
reforça os aspectos mais devastadores da nova realidade dos países
fornecedores de matérias-primas, ou seja, o velho modelo exportador de
produtos primários ou de pequeno valor agregado, sem controle dos preços, se
reforça, e agora com uma nova demanda avassaladora. Pior ainda, no caso
brasileiro, com a transferência para cá de algumas atividades altamente
poluidoras como, por exemplo, termoelétricas utilizando carvão mineral
chinês ou fortemente subsidiadas com o ferro gusa, alumínio etc. Políticas
sustentáveis não são mais caras que as tradicionais. Há anos, o Brasil tem
um viés socialista, o que nos coloca em condições de zelar pela diminuição
das diferenças sociais. Como o governo pretende compensar o meio ambiente e
a sociedade a partir de crescimento predatório? Esta provado cientificamente
que políticas não sustentáveis ampliam as diferenças sociais. O novo
presidente do Brasil precisa cuidar com atenção da sustentabilidade
socioambiental, direcionar suas políticas as boas práticas sustentáveis,
escolher assessores que tenham fluência nessa nova realidade. O Brasil pode
assumir o comando da luta a favor da preservação, avançando fortemente rumo
a prosperidade e a diminuição das diferenças sociais.