A QUADRILHA ESTÁ PRESA

Segundo o antropólogo Roberto Da Matta, que estudou o comportamento dos
brasileiros no trânsito e nas filas dos bancos temos grande resistência à
igualdade. A desigualdade é a sensação mais comum e confortável para todos
nós, pois com ela o Brasil é sempre o mesmo garantindo que nada muda. O
atual detento e ex-super Ministro que sonhava com a Presidência da
República, José Dirceu (PT-SP), assim como sua quadrilha de “mensaleiros”
depois de tantas e de alguma forma colabora hoje com o Brasil. A decisão do
STF de prender imediatamente os canalhas condenados do “Mensalão”, poderá
significar que pessoas poderosas, capazes de contratar advogados milionários
cujo trabalho no conjunto custou R$ 60 milhões, também estão sujeitas à
derrota na Justiça. O acesso à Justiça é um privilégio da minoria com
dinheiro e influentes relações pessoais. É muito difícil prever o impacto da
prisão imediata desses condenados sobre a política nacional. Muitos grandes
partidos sobreviveram a escândalos no mundo. A condenação por uma Corte
Suprema alivia um pouco a aura de onipotência que alguns dirigentes
partidários transmitem, até se lixando para a legislação eleitoral. Eles
passam a ser controlados pela lei. Outro fator que reduz o impacto negativo
é a absurda apatia e incompetência da oposição que é descoordenada, ausente,
pífia e incapaz de iniciativas, sendo avessa à criatividade e inovações. Os
historiadores dizem que a falta de oposição política tende a migrar todas as
manifestações para o interior do próprio governo. Não há como afirmar que
isso ocorrerá no Brasil, mas somado com a atual conjuntura econômica poderá
provocar a interrupção do projeto de poder que o atual governo constrói. O
exemplo está no tão falado choque de capitalismo do governo Dilma, com a
existência de seis programas voltados para a modernização da máquina
administrativa e econômica que na prática nunca aconteceu, mas quase
provocou o rompimento com a base de apoio político. O Congresso Nacional
está semideserto e ninguém sente falta dele. Grandes temas polêmicos foram
resolvidos pelo Supremo: cotas raciais, aborto em caso de anencefalia,
legalidade das marchas pró-maconha. Tudo isso configura um momento
transitório. Para onde nos conduzirá? O maior legado da prisão imediata dos
condenados do “Mensalão” provavelmente não será a influência no processo
eleitoral de 2014, mas o surgimento de uma nova ideia de País onde seremos
mais iguais perante a lei. Espero que a partir de agora não precisemos
piorar tanto para melhorarmos um pouco, e que a corrupção um dia não mais
faça parte da cultura dessa nação, fazendo assim que o “País do Futuro”
passe a ser definitivamente o “País do Presente”.