A produtividade é um valor que foi inserido em nossa rotina. A Justiça é cobrada a produzir. Entre a demanda crescente e a saída das decisões, os juízes são compelidos a produzir massivamente.
Tendo a acreditar que isso é uma fase. Assim que rompido o círculo extremamente vicioso do excessivo demandismo, haverá espaço para aquela elaboração serena de uma decisão maturada na reflexão e na prudência.
Nesse ponto, o Judiciário se mesclou com a cultura do mercado. As empresas também descartam o operário que não produz. O descarte precoce dos CEOs mostra que o capital tende a sugar o máximo aqueles que têm algo a oferecer e depois, qual bagaço de laranja, são atirados impiedosamente ao lixo da inatividade.
Sinto na pele a volúpia do controle do Currículo Lattes, o inventário de nossa produção intelectual. Quem não o movimenta diariamente está condenado ao ostracismo. O currículo Lattes não afere a nossa felicidade.
Apenas aquilo que oferecemos para a sedimentação da cultura sob a forma de livros, capítulos de livros, artigos de jornais e revistas, orientação de pós-graduandos etc. E não é qualquer coisa que merece uma avaliação adequada. Precisamos procurar as revistas Qualis, pois existem aquelas inferiores, que nada acrescentam ao nosso patrimônio docente.
Ninguém consegue libertar-se da imposição da atividade contínua. Vejo como exemplo as viagens, que se tornam obrigatórias. Quando fui pela primeira vez à Europa, vi uma Paris ainda tranquila, sem a invasão do consumismo americano, sem as hordas de turistas que enfeiam a Cidade Luz.
Hoje, quase todas as cidades são iguais. Têm as mesmas marcas, os mesmos nichos alimentícios, houve uma espécie de “disneylização” do mundo. Os aeroportos santificam, pois a regra é o atraso, o empurra-empurra, as tribos cada vez mais mal-educadas. Para mim, por tudo isso, viajar perdeu a graça.
As crianças também são obrigadas a uma série de ocupações. Escola cada vez mais cedo. Mas também o inglês, o alemão, o mandarim. O balé e a natação. A equitação e o esgrima. Todos têm de ser campeões. E ai de quem não se submeter a isso. Parece que não vencerá na vida. Mas alguém tem ideia do que realmente é “vencer na vida”?