BLACK BLOCS PATROCINADOS

A ação dos baderneiros Black Blocs dos últimos dias nada tem haver com o
movimento democrático contrário a realização da Copa do Mundo no Brasil, o
estado paralelo criado pela Fifa e a subserviência do governo federal. Tudo
começa com uma manifestação democrática apartidária e termina em
quebra-quebras. A polícia mostra-se incompetente em seu serviço de
inteligência e na repressão. O governo estadual assiste inerte e de camarote
com vistas nas eleições. O governo federal mente o tempo todo e é o
verdadeiro causador da desordem pública. Há notícias do surgimento dos White
Blocs, movimento de extrema direita que promete “combater” os Black Blocs,
gravíssimo! Vamos migrar para uma guerra civil? Estado paralelo? Importante
saber que uma das características surpreendentes das manifestações
contrárias a Copa do Mundo do Brasil é a força gravitacional de um movimento
liderado por jovens de uma classe média diversificada, em que manifestantes
das classes C e D marcham juntos aos das classes A e B. Com isso a pauta de
reivindicações ganhou em densidade, diversificou-se e converteu-se num alvo
móvel. Um dos fatores de sucesso é seu caráter apartidário, graças ao uso
intensivo dessa imagem como seu principal mote. Há fatores socioeconômicos,
políticos e institucionais a registrar. Um deles é o impacto politicamente
persuasivo das questões econômicas. A inflação traduz-se em erosão da
confiança da sociedade no compromisso do governo com a estabilidade de
preços. Nesse quadro, a explosão do custo dos alimentos e as pressões que
exerce sobre o orçamento familiar da imensa maioria dos brasileiros traz à
luz a distância entre intenções e resultados das políticas oficiais. Daí a
relativa unanimidade em torno ao que está efetivamente em questão: a
qualidade dos gastos públicos, condensada na demanda algo irônica por
“escolas e hospitais padrão Fifa”. Se paga cada vez mais impostos, mas mesmo
assim recorre-se a sistemas privados de saúde e de ensino, que estão longe
de oferecer os benefícios que as empresas relevantes vendem. O que há de
comum com outros movimentos sociais similares e o que há de específico ao
nosso? Todos têm caráter difuso e horizontal, ausência de uma liderança
permanente, constituem maiorias que podem ser ocasionais, unidas em torno de
uma ou várias causas, articulados pelas redes sociais. O que há de
específico são quatro características distintivas: 1) Seu poder de arrastre
social; 2) desenvolve-se num marco democrático, por melhora dos gastos
públicos; 3) ocorre no quadro de dominância de um partido cujas imagem e
tradição se ancoravam no “monopólio” de representação dos interesses
populares. Pensem… Quem se interessaria em patrocinar os baderneiros Black
Blocs?