A questão chinesa, delicada como a porcelana…

As eleições americanas e seus acirrados debates reacendem as velhas acusações à Chinae sua pecha de parceiro desleal no cenário do comércio internacional.

Com seu PIB de mais de 7 trilhões de dólares, o gigante asiático, em 2011, exportou para o mundo 1,90 trilhões de dólares, e importou 1,74 trilhões, gerando um superávit comercial de 160 bilhões de dólares – mais da metade do total das exportações brasileiras naquele ano.

Os Estados Unidos, em 2011, importaram dos chineses US$411 bilhões, ao passo que venderam a eles mercadorias e serviços no valor de US$129 bilhões, resultando num déficit na balança comercial de 282 bilhões de dólares.

E os números de 2012 projetam, até o mês de agosto, mais ou menos a mesma situação, num nível ao redor de 10% acima, pra vendas, compras e desequilíbrio comercial.

Para efeito de comparação, os brasileiros importaram dos americanos, em 2011, e exportaram, US$42,9 bilhões e US$31,7 bilhões, respectivamente, deixando com os gringos a bagatela de mais de US$11 bilhões – mais da metade deles nas compras em Miami, que agora incluem apartamentos e casas de veraneio ao preço do Minha Casa Minha Vida.

Já com os chineses, seus maiores parceiros comerciais, o Brasil se deu melhor em 2011: exportou 44,3 bilhões e importou 32,8 bilhões de dólares, recuperando, com sobras, tudo que deixou na terra do Tio Sam, antigo grande parceiro.

A China é a grande indústria mundial.

Compra soja em grãos, que transforma em comida e outros produtos em suas fábricas.

Importa petróleo cru, que industrializa.

E minério de ferro, que transforma em aço e vende pros americanos, além de infinita gama de manufaturados, que vende pra todo mundo.

Com taxa de crescimento do PIB anual de 8%, enriquece quatro vezes mais rápido que os Estados Unidos, e deverá superar os 15 trilhões do PIB americano em alguns anos.

Segundo os especialistas (os famigerados pundits, em inglês), aChina tem crescido rapidamente porque começou com uma renda per capita muito baixa – ainda uma pequena fração da rendaamericana.

Em tempos da chamada Grande Convergência – onde as nações tendem a convergir globalmente a níveis similares de produtividade econômica – a baixíssima renda per capita chinesa oferece muito espaço para a continuidade da sua alta taxa de crescimento.

Por outro lado, comoprega o professor Niall Ferguson em seu livro Civilization: The West and the Rest (Civilização: o Ocidente e o Resto), é possível que aChina não consiga manter o seu ritmo de crescimento e ultrapassar os americanos, nessa aparente competição, por problemas dentro de suas fronteiras:

Primeiro, porque pode acontecer uma estagnação à japonesa;

Segundo, porque o país pode sucumbir a algum tipo de instabilidade social – por exemplo, devido ao excesso de homens que a política de um-filho-por-casal tem causado, e a preferéncia chinesa, milenarmente arraigada, pelo filho varão;

Terceiro, porque uma crescente classe média chinesa pode demandar mais poder do que o atual regime possa acomodar;

E quarto, porque a China pode antagonizar e alienar seus vizinhos e maiores parceiros comerciais.

É possível que a América ainda reine na Terra por muito tempo, mas ninguém, ainda que seja republicano, quer, fora do campo da retórica eleitoreira, uma China contrariada…

 

(Fontes: census.gov e Ministério das Relações Exteriores)