Retorno à polis

A polis grega é considerada o modelo de convívio ideal. Número razoável de cidadãos igualmente providos de condições de influenciar a gestão do interesse comum. Nenhum excesso. Apenas o suficiente para uma vida civilizada.

Aos poucos, a cidade se tornou pequena para abrigar todos os desejosos de usufruir da convivência a facilitação do subsistir. Repartição de tarefas, especialização, reciprocidade, solidariedade e fraternidade. Sonhos utópicos, mas que alimentaram gerações.

Sobrevieram as Nações, cujo invólucro afetivo concebeu a Pátria. Família amplificada, conjunto de cidadãos unidos pela consciência do passado comum, de um presente amorável e de irrecusável desejo de permanecer em comunhão.

Só que a Nação já não poderia acolher todos os cidadãos para decidir, na ágora, os destinos da polis. Os destinos nacionais passaram a depender da representação. Se as pessoas nem sempre são talentosas para gerir a coisa pública, ao menos têm condições de escolher aqueles que por elas o façam.

O fenômeno representativo se mostrou falível. Já que o representante responde por um ente abstrato – a Nação – e não ao povo, nem sempre este é atendido em suas aspirações.

Isso explica, de certa forma, o fracasso da política. A descrença do povo no seu representante. A generalização contaminadora de todo político. O representado não se sente vinculado àquele que elegeu e colocou em condição de influenciar a vida nacional.

Indaga-se o eleitor: para que serve a União? Na verdade, moro na cidade. É aqui que desenvolvo minha vocação, aqui alimento minha família, aqui conheço meus vizinhos e meus conterrâneos. É o porto seguro onde ancoro a minha embarcação vital.

Será que não é hora de revigorar a polis? Por que o município, que tem as maiores responsabilidades e atende à plenitude dos anseios de seus moradores, não tem por si o reconhecimento de sua verdadeira importância? Por que a sangria tributária que o “impostômetro” da Associação Comercial bem retrata, não contempla esta célula federativa que é pouco respeitada por nosso Federalismo assimétrico?

É hora de prestigiar a cidade, de fortalecer o município, de torná-lo capaz de responder aos anseios dos munícipes, que não moram na União, nem no Estado. Moram em suas cidades e querem que elas sejam respeitadas.