REVOLUÇÃO DO GÁS DE XISTO

A Revolução Industrial teve início no fim do século 18 e foi baseada no uso
do carvão. Com o correr do tempo o petróleo começou a substituir o carvão
por causa de suas características mais atraentes, como ser líquido e mais
fácil de transportar. Finalmente, em meados do século 20, o gás natural, que
é mais limpo, começou a dominar o cenário energético. A Idade da Pedra não
acabou por falta de pedras, mas pela descoberta de que metais eram melhores
para fazer machados ou lanças. Hoje, no mundo, o carvão representa 26% do
consumo de energia; o petróleo, 32%; e o gás natural, 20%. O petróleo é
ainda dominante, mas a produção mundial está se concentrando no Oriente
Médio, local atribulado, e não são poucos os que acreditam que as guerras
naquela região têm que ver com a necessidade de obter garantias de
fornecimento de petróleo. Os desenvolvimentos tecnológicos nos últimos dez
anos estão mudando drasticamente esse cenário, com a exploração do gás de
xisto. Houve uma “explosão” no aumento da produção: em 2000 o gás de xisto
representava 1% do gás natural produzido nos Estados Unidos, em 2010 eram
20% e existem previsões de que em 2035 serão quase 50%. Estamos, pois,
diante do que poderá ser uma nova revolução energética e da ascensão de uma
“era do gás”, como foi a do carvão no século 19. Xisto é uma camada de
mineral situada a três ou quatro quilômetros abaixo da superfície do solo,
na qual gás se encontra aprisionado. É preciso “fraturar” o xisto para
libertar o gás, o que é feito com jatos de água a alta pressão, a qual se
adicionam certas substâncias químicas. Gravíssimos problemas ambientais
originam-se no fato de que grande quantidade de água tem de ser usada,
misturada com areia e um “coquetel” de substâncias químicas (cuja composição
tem sido mantida confidencial pelas empresas) para “fraturar” o xisto. Cerca
de 50% a 70% da água injetada é recuperada e trazida de volta para a
superfície, onde é colocada em lagoas que podem poluir o lençol freático.
Além disso, o gás liberado do xisto não é metano puro, vêm acompanhados de
nitrogênio (que não queima) e de várias impurezas, como sulfato de
hidrogênio (que é tóxico e corrosivo), tolueno e outros solventes. Outro
problema que lança dúvidas sobre a realidade de uma revolução na área de
gás, causada pelo uso de gás de xisto, é que a produção de cada poço não
deve ultrapassar 15 ou 20 anos. Se esse for realmente o caso, não estamos de
fato diante de uma “revolução”, mas sim de um grande problema ambiental para
gerir, caso de fato a matriz energética venha e se estabeleça.