A apresentação do retrato oficial de George W. Bush na Casa Branca há alguns dias mostrou um pouco do lado cômico do ex-presidente americano.
Tendo se mantido relativamente discreto desde que se afastou de Washington – Bill Clinton tem atraído mais audiência – ‘George W’ recentemente, e aparentemente só por obrigação partidária, declarou seu apoio ao republicano Mitt Romney – apoio esse rapidamente dissipado na mídia pelo do ‘mala’ Donald Trump.
Famoso por sua fraca oratória pessoal (leia-se pela capacidade de falar bobagem), deu-se muito bem naquela cerimônia de inauguração do seu retrato oficial – pintado por um artista texano. E, embora se esperasse alguma exploração política do evento neste ano eleitoral, causou certo espanto seu tom sarcástico e engraçado:
“Agora a galeria de presidentes começa com George W (Washington) e termina com George W”.
“Fico feliz, ‘Mr. President’, que agora, quando andar por estes corredores tentando tomar uma decisão difícil, poderá olhar pra este retrato e perguntar ‘o que o George faria?’”.
No meu entender, esse comportamento no qual o político faz piada, igualmente de si mesmo e dos adversários, pode ser hipócrita, mas revela também cumplicidade no entendimento da importância e responsabilidade imensas inerentes ao cargo que se disputa. Demonstra respeito e transcende o indivíduo, acalmando muito mais os ânimos do que chá de camomila…
Falando em chá de camomila, tem me parecido mais interessante – e revelador! – acompanhar as eleições pra prefeito e vereador no Brasil do que pra presidente americano, dado o envolvimento dos demais poderes nas escaramuças.
O nosso ex-presidente parece ter incorporado o espírito do “Poderoso Thor’ e absorvido pra si os ‘três poderes’, bem como o daqueles a quem representou e hoje não representa mais, criando, como um Donald Trump com menos cabelo, situações embaraçosas até pros amigos e aliados.
No executivo, só vai ‘deixar a Dilma’ se ela quiser continuar, na sua visão, a ser coadjuvante do protagonista – aliás, tenho a impressão de que a chamaria de ‘galega’, no ‘sentido carinhoso de branquela’, se loira fosse! – eis que não vai “permitir que um tucano (ou qualquer outro pássaro?) volte ao poder” (o que será que o FHC fez de tão ruim que nós eleitores – ou pelo menos eu – não sabemos?).
E nem é besta de se arriscar a uma derrota num enfrentamento de tamanhos indices de aprovação da presidente; melhor ser ‘eminência parda’, parece pensar. Por isso deverá fazer tudo pra que ela se candidate à reeleição, claro.
No legislativo, o PT e aliados mandam no Congresso, e Lula acha que manda no PT, no que tem sido ajudado pelo presidente da câmara, o petista Marco Aurélio Maia, em flagrante grosseria com a atual ocupante do cargo, de só se referir a ele, sem nenhum constrangimento, como “o presidente Lula”.
No judiciário, Lula parece estar convencido de que a “caixa preta” de 2003 tem hoje cores mais berrantes, dado que nada menos que 8 dos 11 atuais ministros foram nomeados na sua gestão.
Sorte nossa que a vitaliciedade está aí convidando a soltar o rabo aqueles juízes que o têm preso!
Voltando ao meu tempo de juventude nos anos setenta e oitenta, quando ainda havia os ‘figueiredos que prendiam e arrebentavam’, depreendo que Lula lembra muito mais um caudilho a impor sua vontade, em ambiente favorável, do que a alegada vítima da ‘repressão feroz’ que então reinava.
Ele já parecia ser assim nos comícios e nas greves intermináveis – que beneficiavam ‘na marra’ alguns, em detrimento da maioria silenciosa de sempre! – e, pelo jeito, reaparece sempre que o ambiente se torna de novo favorável, como neste ano de manipulação da opinião pública brasileira – ou eleição, se aprouver! – com a abertura da temporada do ‘pega-pra-capar’, onde os limites do jogo limpo (ou legal) se expandem pra muito além de suas fronteiras…